MetaReciclagem por aí

Felipe Fonseca, 30/04/07

Mbraz questionou sobre a "sucata" na lista:

Nao só devemos considerar a gambiarra como uma das práticas disseminadas pela metareciclagem, mas ainda a sucata entendida como sobra de um mundo industrial quase caduco.

Se nós, feito homens_máquinas pela lógica capitalista, já cansamos da doação da mais-valia; em contrapartida buscamos a mais-valia das máquinas que a mesma lógica do processo industrial descarta.

Se menos-valia das máquinas para eles, muito mais-valia para nós outros. Ou dito de outra forma, sucata no dos outros, não é refresco para nós (hehe)

Stalker respondeu direto, acho, e não entrou nos arquivos da lista:

Há dois filmes geniais para "ilustrar" essas coisas... ou três:

 

  1. Johnny Mnemonic: a revolução e a resistência vêm dos Loteks, que são ciborgues metarecicleiros não-conformistas e anti-corporativos
  2. Robots: o direito a peças de reposição é o direito à identidade dos robots, assim como à sua persistência como enquanto entes vivos e auto-determinação como entes pensantes; a resistência vem da aliança de um herói bricoleur com o inventor original de robos; o nêmesis é um robot corporativo que quer exterminar os robots obsoletos e forçar a todos a só usar peças novas que ele fabrica. (Vista à vista...)
  3. Matrix Reloaded: ótimos diálogos sobre máquinas (a) com o meta-algoritmo "oráculo" (b) com o antagonista-virus e seu argumento de metástase (c) com o conselheiro da cidade rebelde (d) com o meta-algoritmo "grande arquiteto".

Alguma conceituação:

 

  • Sucata são materiais e máquinas que não se ajustam mais aos programas de uso preexistentes (por uma conjunção de desinformação, desimaginação e alienação em relação às técnicas)
  • Gambiarra é a utilização de máquinas e materiais adicionando outros, induzindo derivas nos programas de uso preexistentes.
  • Manutenção é o ajuste de máquinas e materiais para que se mantenham nos programas de uso anteriores, predefinidos.
  • Engenharia é a imposição de programas de uso a materiais e máquinas, em geral, programas não emergentes desses, mas predefinidos segundo interesses em finalidades prefiguradas alhures.
  • Reciclagem é a utilização de máquinas e materiais para a incorporação em programas de uso preexistentes, mas distintos (às vezes completamente) dos programas dos materiais e máquinas originais. Em geral, são formas de engenharia com sucata, nenhuma inovação emerge.
  • Bricolagem é a utilização intuitiva e estética de materiais e máquinas à revelia dos programas de uso preexistentes, em função de virtualidades que emergem do contato entre entes variados (interesses estéticos, demandas de comunidades, possibilidades de fontes de energia e materiais, virtualidades de máquinas, pressões de outros grupos sociais &c).
  • MetaReciclagem é a atividade de uma rede de ativismo que faz meta-reciclagem. (hahahá, argumentos recursivos são sempre divertidos!)

(Ou seja, um híbrido de bricolagem e reciclagem, principalmente de máquinas heurísticas. Em termos globais da ação, estratégico-recicleiros, busca-se redefinir de diversas maneiras os programas de uso das máquinas para favorecer (a) o seu uso coletivo e público; (b) a recepção ativa, a produção e difusão de conhecimentos e inovações tecno-cuturais; (c) a autonomia tecno-político-cultural. Em termos tático-bricoleiros, sabe-se lá o que vai acontecer, deixa-se o ciborgue a ser sugerir que ente ele deseja ser, como na bricolagem mais intuitiva e estética.)

Note que não falo mais nem de revolução, nem de tomada do poder: quando algum grupo toma o poder instituído, é a instituição do poder que tomou o grupo. A gente tem que criar uma forma de poder não-apropriavel por nenhum particular, seja individual, seja privado, seja coletivo/corporativo.

Não sei se concordo totalmente com essas definições. Em alguns casos eu faço outro corte...

Aí um dia me ligou uma jornalista da Nova Escola, a revista. Sentado debaixo de uma árvore nas Perdizes, respondi a algumas questões que ela tinha pra escrever uma coluna sobre MetaReciclagem.

Aí eu descobri onde tá o novo blogue do Banto e ele escreveu um pouco sobre MetaReciclagem:

Quando todo o processo de criação e descoberta é liberado de forma que mais pessoas possam ter acesso aos passos dados para chegar ao resultado, de forma que as pessoas também possam estudar a partir do documento, alterar e redistribuir.. o conhecimento tem um grande salto coletivo.

Legal ver que o processo espontâneo de crescimento da rede MetaReciclagem continua... um cara chamado Helio participou de uma oficina de MetaReciclagem, se apresentou na lista em 29 de março como "novato na área", e em 13 de abril já mandou outro email assim:

não estou mais agora como 'novato na área' mas sim como metarecicleiro, e como estamos criando um projeto de metareciclagem em prol da comunidade, gostaríamos de poder contar com idéias, informações e apoio de vocês.

O OLPC também foi assunto de algumas boas discussões na lista. Hudson avisou que estava disponível para download o LiveCD com o sistema que roda nos X-Os. Eu baixei e testei, por curiosidade. A interface é interessante, bem simples. Na minha máquina dá umas travadas, mas isso é de se esperar. A Tati, com base na experiência que tem com escolas públicas com o GESAC, falou que teme o que vai acontecer quando chegar nas escolas.

Continuo acompanhando à distância mas com bastante curiosidade as articulações do Regis e da Teia no Arraial com o Bailux. Um dos colaboradores de lá, o Renato, estava em sampa na época do debate com o Stalker, e já aproveitou pra participar, além de conversar com o Alê e Nano sobre wi-fi e outras coisas que eles estão querendo fazer no Bonete.