Fim do mezanino

(N. do E.: esses textos contam o fim do esporo de MetaReciclagem na galeria Olido – leia mais sobre o esporo no texto “Cartografando”).

Navios piratas devem circular...

email de Dalton Martins, publicado por Felipe Fonseca no blog fff, 30/03/2006:

caros Elcio, Marcello:

estamos tentando uma reuniao com voces desde o dia 08/03, onde apenas o Marcello compareceu. Tentei contato via email com o Elcio por duas vezes e nas duas nao obtivemos respostas.

perdemos dois profissionais treinados e preparados para realizarem trabalho de metareciclagem, que alegando desmotivacao pela falta de rumos do projeto, deixaram a equipe em busca de outras oportunidades de trabalho. Tentei por vezes seguida conversar com os srs. a respeito da reposicao dos dois profissionais. Estou aguardando retorno ate agora. Fiquei sabendo que duas novas pessoas foram chamadas para a equipe e nem uma conversa da parte dos srs. com os ditos “parceiros” do MetaReciclagem foi feita.

considerei que a primeira reuniao que tivemos, onde participaram Elcio, Guarnieri e Marcello, havia sido extremamente produtiva, mas vejo que, infelizmente, nao teremos oportunidade de dar andamento nos projetos. como disse na reuniao que tivemos em fevereiro, o MetaReciclagem eh um projeto que existe dentro de outras prefeituras e outras esferas governamentais, logo temos uma grande quantidade de equipamento parado nos depositos do Olido, que estao registrados em notas fiscais em nome da ONG Sampa.org. Temos projetos em andamento e comprometimento com as comunidades com as quais nos envolvemos. como vejo que nao ha interesse por parte da prefeitura na continuidade de nossas conversas e dialogos a respeito de um futuro projeto, gostaria de realmente oficializar nossa retirada da prefeitura de Sao Paulo, o que constaria nas seguintes etapas:

  • retirar os equipamentos doados ao projeto no mezanino do Olido;
  • desligar o nome MetaReciclagem de qualquer projeto que a prefeitura de Sao Paulo vier a fazer em relacao a reciclagem decomputadores;
  • anunciar publicamente a saida do projeto;
  • realizar todo encaminhamento de oficios necessarios para viabilizar a retirada.

senhores, acho inadequado o procedimento que vem sendo adotado em relacao a um projeto que preza por seu trabalho no cotidiano e nao faz sentido deixarmos parados uma quantidade enorme de equipamento que foi doado por instituicoes serias e que buscam acompanhar os destinos de tais doacoes. Falo por empresas como Alcoa, Foruns Municipais, Cartorios Eleitorais, grupo Votorantim e outras empresas que participam constantemente do projeto. eh com pesar que constato tal procedimento por parte da prefeitura, deixando seus ditos “parceiros” sem resposta e sem ao menos um encaminhamento de atividades.

contando com sua compreensao e colaboracao nesse processo de desligamento, gostaria de agradecer pelo tempo em que pudemos trabalhar juntos e pelo apoio que nos foi dado ate aqui. sem mais para o momento, aguardo a resposta dos senhores para agendar a retirada de equipamento e desligamento de atividades.

grato por sua atencao,

dalton martins

coordenador metareciclagem

Mezanino morreu. Longa vida à MetaReciclagem

Felipe Fonseca, 31/03/2006

MetaReciclagem na Galeria Olido

Em 2004, durante a Semana de Inclusão Digital, realizada no Centro Cultural Vergueiro com organização da prefeitura de São Paulo, a então prefeita anunciou que sua administração estava fazendo uma parceria com a “Ó-êne-gê MetaReciclagem”. Puro vapor. A tal ONG nunca existiu. Estávamos, sim, conversando com Beá Tibiriçá e sua equipe sobre possíveis parcerias. A mais provável era no projeto Cibernarium, com patrocínio da União Européia, que tomaria corpo em um telecentro na galeria Olido, então em reformas. Por intermédio de Claudio Prado, do Ministério da Cultura, conversávamos também com a Secretaria Municipal de Cultura. No fim das contas, esboçamos um projeto que previa um Esporo piloto de MetaReciclagem no mezanino do telecentro da galeria Olido, em ação conjunta com a Cultura Digital, do MinC, que tomaria conta do terceiro andar da galeria. Seriam contratados três técnicos de MetaReciclagem para o mezanino, que prestariam contas a um coordenador contratado pela parceria da Secretaria de Cultura com o Ministério. O mezanino seria um espaço de referência em MetaReciclagem, cuja principal atribuição seria desenvolver tecnologia livre para uso de computadores usados e “capacitar” ATUs e monitores de telecentros em hardware, para diminuir gradualmente sua dependência da equipe de manutenção da prefeitura. A MetaReciclagem realizaria atividades na Oficina Boracéa, transformando-a também em pólo de captação de doações de tecnologia. Também naquele espaço, prestaríamos assessoria ao programa nacional de recondicionamento de computadores.

Como geralmente acontece com planos feitos em fim de governo (Marta Suplicy perdeu as eleições municipais para José Serra), quase nada deu certo. Os coordenadores da Cultura Digital não foram contratados até mais de meio ano depois, o programa de recondicionamento de computadores nunca mais apareceu na nossa frente, a verba de equipamentos pro terceiro andar (R$ 500k) sumiu. Entretanto, não consigo ver nada disso como um fracasso. Conseguimos manter um espaço autônomo durante grande parte da gestão Serra sem precisar dar muita satisfação a ninguém. Realizamos eventos, abrimos espaço livre para voluntários, trouxemos representantes de diversos movimentos sociais para trocar idéias e experiência.

É claro que houve problemas. Os três técnicos que contratamos ficaram órfãos de coordenadores, que precisaram correr atrás de outras coisas para sobreviver, o que resultou em uma certa crise de identidade do espaço. Em vez de o primeiro esporo desenvolvido com um planejamento estruturado, ficamos com um espaço relativamente carente de orientação. Eles não conseguiam explicar muito bem o que faziam ali e por quê, e isso sempre me parece um problema. Com o tempo, foram perdendo cada vez mais a motivação. Nosso afastamento foi um motivo, e depois a demissão da coordenadora de atividades e por fim a ausência total das pessoas que elaboraram o projeto também contribuíram para isso. No início desse ano, pressionados por cobranças constantes de relatório e registro de voluntários, dois dos técnicos disseram que haviam desistido. Dalton tentou conversar com o Marcelo, “chefe” deles. Nada. Decidiram sair do espaço. Dalton mandou um e-mail para o Marcelo e sei lá mais quem dizendo “beleza, foi bom pra nós, mas estamos saindo”. Quando tudo se armava para um abandono do trapiche, chegou uma resposta de Élcio, o novo coordenador dos telecentros da prefeitura, dizendo “calma lá, não é por aí, vamos conversar”. Marcamos uma reunião. Cheguei atrasado, com meu cabelo moicano recém-cortado. Papinho: “Gosto do trabalho de vocês, vamos conversar, Oficina Boracéa, vamos trabalhar juntos”. Na semana seguinte, nada. Na outra, nada. Mais uma, aqueles dois técnicos que tinham ameaçado pediram as contas e foram pra lugares onde podem crescer um pouco. O outro ainda tentou resistir bravamente, até que foi avisado de que dois funcionários aleatórios (que nem devem saber o que é MetaReciclagem) seriam contratados para o espaço. Nessa semana, o “chefe” pediu que ele instalasse um windows pirata, comprado na Santa Ifigênia, para realizar uma oficina da Lexmark. Dalton passou um tempo lá com ele, e o resto é o e-mail que eu publiquei ontem (acima).

Agora é momento de criarmos nosso novo esporo. Mais uma vez, estamos na estaca zero: encontrei há pouco o Dalton na Paulista, com meu caderninho em mãos, como fizemos há mais de três anos. Idéias não faltam. Talvez, enfim, o pessoal da plataforma esteja certo: precisamos ter um espaço nosso. Estou trabalhando com essa hipótese, e pensando em maneiras de viabilizar. Idéias? Deixe nos comments.