Anotações durante o processo de descentralização da MetaReciclagem.
Não rede, mas ações
Felipe Fonseca, 22/06/04, no blog fff
No sábado rolou um papo longo sobre o MetaReciclagem. Mais de uma dúzia de pessoas presentes. Começamos falando sobre cada uma das coisas que está rolando, mas não deu tempo. É coisa demais. No fim, acabamos cortando direto para um papo importante: o que caracteriza o MetaReciclagem coletivamente. Eu tinha ficado alguns dias pensando sobre uma reunião que rolou na Zona Leste, quando o Marcelo do CMI comentou algo como “agora que temos alguém aqui que pode responder em nome do metareciclagem”. O Mota respondeu que tudo era consultado, etc, mas não é isso. Fiquei pensando duas coisas: por que eu poderia responder em nome do grupo e o Fernando não; e por que o grupo precisa ter uma resposta. Acabei tocando nesse ponto na reunião de sábado. Vou até repetir alguns dos argumentos. Não acho que o MetaReciclagem necessite ter uma resposta. A gente tem que perder os vícios do século XX, principalmente em relação à corporificação dos nomes. Não temos uma marca que precise de um brand manager definindo estratégias de dominação de mercado. Não precisamos definir uma personalidade coletiva, uma identidade de marca, tratar o MetaReciclagem como superindivíduo, independente de cada um de nós. Não precisamos ser coerentes! Isso é pensar em termos de marcas, isso é cair na armadilha de ser contra a situação, o que não caracteriza necessariamente inovação.
Vejo MetaReciclagem como uma construção emergente: pessoas interessadas em trabalhar tecnologia para transformação social, conhecimento livre e otimizaçãoo de recursos tecnológicos falaciosamente tidos como obsoletos, podem chamar cada uma de suas ações nesse sentido de metareciclagem. Aí não falamos “do” metareciclagem, como grupo, mas, como o Hernani já usava e o Pádua está usando, “a” metareciclagem, conceito mutante e emergente. Metáfora interessante é a bandeira pirata. Usamos para algumas coisas, para outras não. Como disse o Dalton a uma menina em Porto Alegre: se encontrares alguém que responda oficialmente pelo grupo MetaReciclagem, manda prender que é mentira. Isso é uma maneira diferente de ver as coisas. Operação pirata, como está defendendo o hd. Vamos evoluir o conceito. Aliás, ambos. MetaReciclagem e Pirataria.
Comments
1. dpadua - 23/6/2004
só uma correção… eu sempre disse que metareciclagem é um conceito.
2. ff- 23/6/2004
eu sei que sim, mas to falando de chamar de “a” metareciclagem, nao “o” metareciclagem, tah ligado? isso muda muito.
3. dpadua - 23/6/2004
podicrê :)
4. xpop - 23/6/2004
eu ainda acho que ainda pode-se criar o seguinte impasse. Todos “respondem” pelo grupo. Ok. Mas meu receio fica em um dado momento que algo sair errado envolvendo o nome do coletivo. Alguém vai responder (tanto melhor) e reavaliar o papel do coletivo, ou ninguém responderá (dizendo que não é responsável pelo grupo) o que pode comprometer qualquer ação futura (o karma do mR). Mas aprendo e venho aprendendo com vcs outras maneira de me relacionar em grupo, podemos criar uma nova maneira de gerir os desencontros.
e tenho dito.
5. ff - 23/6/2004
óia que tá bem frequentado esse blogue. xopps, minha posição pessoal a respeito é essa: no dia que alguém responder oficialmente pelo metareciclagem e isso levar a alguma merda, ok. acaba o metareciclagem e ainda meto um processo no imbecil que assumiu essa.
Mais sobre metanomenclaturas
Felipe Fonseca, 13/07/04, no blog fff
Respondendo a uma resposta do fernando [Liquuid] para um amigo dele.
> Como o povo define, um bando de gente em uma lista de discussão…
> Isso pra mim é nebuloso desde que entrei pro grupo, esse que não
> existe… porém fazemos vários trampos juntos, como se fossemos um
> grupo, tomamos algumas decisões em conjunto,
Disse bem. Algumas.
> consultamos o grupo
> para tirar algumas dúvidas, apesar do grupo não existir ele existe,
> está claro isso pra você ?
Existe um grupo de pessoas. Mas metareciclagem não é só esse grupo
de pessoas. E por quê? Basicamente porque não somos uma entidade,
ou empresa, ou simplesmente uma lista de discussão. Porque as pessoas
envolvidas com a metareciclagem não têm, todas, o mesmo grau de
envolvimento, e isso é umas das coisas que, pra mim, mantém a
correria interessante. Tem nego entrando de cabeça e dedicando a
vida, tem nego mandando uma mensagem por mês. Se colocamos
todos no mesmo saco, “o grupo metareciclagem”, e tentamos nos
obrigar a tomar decisões coletivas, vão rolar distorções. Se tentamos
excluir quem não tá na correria diária, perdemos muito da essência
e das novas idéias que circulam entre essa galera. Por isso metareciclagem
é uma metodologia descentralizada. Estou certo que tem espaço pra pensar
tanto na metareciclagem como um nome pra ações quanto no metareciclagem
como um grupelho organizado. Entretanto, isso pode dar problemas fora.
A partir do momento que a metareciclagem passa a interessar à folha
de são paulo e que a martinha fala sobre “a ong metareciclagem” em
uma palestra na semana de inclusão digital, é necessário que a gente
defina pelo menos o que a gente não é. Não somos só uma idéia circulando
em uma lista de discussão e weblogs e wikis, é claro. Mas também não
somos só um grupo de pessoas instalando GNU. Tem mais, conceitualmente,
e tem mais na prática. Estamos propondo, e estamos fazendo, coisas
totalmente novas por aqui. E justamente por isso não podemos nos
apegar à maneira antiga de fazer as coisas: um grupo de pessoas
trabalhando juntas, põe um nome e passa a faturar tudo nesse nome.
Até porque, sem querer ser repetitivo, a metareciclagem não se limita
às pessoas que estão envolvidas na correria do dia a dia. Pensar
grande pra andar bastante…
> Esse conceito do grupo que não é grupo, mas um flash-mob contínuo
esquece flashmob. viagem essa tua idéia fixa.
> é super complicado de entender principalmente quando o interessado
> procura por um grupo de pessoas com um trabalho em comum, meu caso,
> ou instituições ou ONGs que procuram parcerias com o grupo… o que é
> impossível já que o grupo não existe.
Pensa por outro lado. Um monte de gente entrou na lista@metarec não
pra necessariamente trampar com GNU, mas pra pensar e debater novas
formas de transformar a tecnologia para mudar a vida das pessoas.
Se metareciclagem se limitar a santo amaro, agente cidadão, santo
andré, olido, caju4, o que sobra pra essas pessoas? Não falar nada
nunca, porque não estão envolvidos com os trampos?
> Superei essa dificuldade de
> entender o grupo enxergando o grupo como um grupo, mesmo contra a
> vontade do grupo, só tomo o cuidado de não chamar o grupo de
> metareciclagem na frente do grupo, ou o grupo que não existe pode se
> zangar… deu pra entender ?
=P
> Na prática o grupo existe mas seu nome não
> pode ser pronunciado “formalmente”, mas sim apenas para fins didáticos e
> não comerciais…
Na prática o nome metareciclagem é uma bandeira pirata, usamos quando
necessário pra subverter preconceitos mentais de pessoas que ainda pensam
como no século XX - a marca Kolynos é dentes brancos, a marca Omo é
roupas brancas, a marca Medellin é outras coisas brancas. Não podemos
acreditar no poder da marca. Não podemos levar “o metareciclagem”
a sério, porque nada pode ser levado a sério.
Essa correria toda que a gente faz é só o começo de uma pusta época
de inovação. Anota aí: daqui a sete anos a gente vai olhar pra trás e
rir. Ou chorar. Não podemos acreditar que o que já fizemos até agora
é a grande revolução. Essa ainda nem começou.
> Quando falo do grupo para pessoas de fora, chamo de
> “metareciclagem”,
Perfeito. Estratégia pirata.
> quando saio de casa para encontrar o grupo digo a
> minha mãe que fui encontrar o “metareciclagem” pois se disser que fui ao
> encontro do grupo que não existe ela pode achar que estou com febre.
Melhor ainda.
> Não leve muito a sério essa história do grupo que não existe, o grupo
> existe mesmo sem existir, é inevitável.
Sim. Existe e depois inexiste. E existe como conceito com todo mundo
que quer conversar sobre tecnologia social. E existe como identidade
de um grupo de pessoas que está trabalhando em menos de meia dúzia
de projetos.
> Apesar do grupo não existir ele produz uma série de coisas
“O grupo” não produz nada. As pessoas, sim. E chamam isso de metareciclagem
porque lhes convém. Qualquer abstração maior que isso é vício no século XX.
Na minha opinião. E não existe maior prova disso do que o fato de que qualquer
um pode discordar de mim e usar o nome de outra forma.
> As várias pessoas que compõem o grupo produzem em suas áreas de maior
> interesse, eu por exemplo gosto de escrever tutoriais em txt,
> relacionados a distribuições linux, gosto de experimentar desktops leves
> (como o FVWM), escrevo material didático para alguns cursos etc.
> E é desse jeito que a coisa caminha, analisando as necessidades do
> conceito metareciclagem e desenvolvendo soluções para que outros
> grupos/ONGs/pessoas apliquem essas técnicas.
E justamente por isso metareciclagem não se limita aos quatro-seis labs
nos quais o dalton, o fernando, o mota, o thiago, o hernani e o felipe
estão envolvidos.