Os relatos de Marcelo Braz sobre Ymaguaré, em Paraty

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Entre os dias 02 a 04 de novembro, Marcelo Braz participou do evento da Cultura Indígena em Paraty-RJ. Ele fez uma série de registros fotográficos e compartilhou os relatos:

A transcrição de falas é algo difícil, então vou citar partes soltas(pensar por aforismos, fragmentos) da conversa que rolou, bem mais ampla: 

  • Não foi uma palestra, foi adotado o pensamento espontâneo, inspirado e intuitivo. Engana-se quem acha que não há complexidade no pensamento indígena. Aliás, isso faz parte do pré conceito ingênuo, e por que nao dizer interesseiro sobre os povos indigenas ancestrais e atuais. O pensamento indigena por estar profundamente enraizado no mundo natural apropria-se de toda a complexidade natural que esse mesmo mundo natural manifesta. Eu arriscaria dizer mesmo que, por exemplo, a pajelança seria a manifestação por corpos humanos desse mundo natural complexo.
  • Tradição é uma técnica de como passar conhecimento, crencas, costumes,em suma, modos de viver de uma geração a outra. Diferentes povos desenvolvem diferentes técnicas. Não é pela internet. Os Pataxó na Bahia, no sul da Bahia, perderam grande parte da tradição pelo contato com outras culturas. Depois com a retomada dos antigos territórios tambem foram retomando antigas tradicoes. Principalmente a lingua que é fundamenta, pois a lingua define modos de pensar e compreender o mundo. Eles retomaram hoje em torno de 3000 vocabulos e o processo continua. Amigos e Parentes desenvolvem um projeto chamado o Quintal da Pajé, onde estão sendo revividas as plantas de cura com o envolvimento dos mais jovens.
  • Se configura um conjunto de técnicas e um conjunto de técnicas chamamos tecnologia. Estamos tão acostumados ao predominio das tecnologias de maquinas que acabamos esquecendo das outras tecnologias. Hoje eu começo a ver que se não retormarmos esse conceito mais amplo de tecnologias e de tradição estaremos fadados ao fracasso, a aumentar os processos de devastação em detrimento dos processos de criaçao, proteção e estímulo daquilo que vive.
  • Por exemplo, se estivermos no centro de uma grande capital do Brasil e traçarmos um circulo de raio 1 km, poderemos ter mais coisas mortas do que vivas. Hoje o padrao de construcao é baseado no cimento, quer algo mais morto do que isso. Lembrando que túmulos também são feitos em cimento. E para piorar, o concreto tem a capacidade de durar muitos anos sem sofrer deterioraçao. É o que Davi Kopenawa Yanomami chama de "O Povo das Caixas". Que bela troca!, trocar o vivo pelo nao vivo. Voces. Guarani e moradores da Seera do Mar ainda são privilegiados, pois o Vivo prevalece. Este predomínio de coisas mortas sobre vivas diz respeito aos atuais modos e meios de se produzir, com base no capitalismo que estimula mais a acumulacao do que a distribuicao de riqueza, bens e conquistas.
  • Um outro modo de producao ao qual estou diretamente ligado, e que aparece como uma alternativa bastante viável, é a Economia Solidaria. Esta economia está mais proxima, digamos... da economia natural, da economia que nasce de baixo para cima. Ou da economia do cotidiano, daquela que uma senhorinha faz pãos caseiros e sai vendendo na rua. Ou daquele costume de fazer um bolo e levar alguns pedacos para a vizinha. E depois ela faz o mesmo em agradecimento criando aí, por ex, um sistema de trocas simples virtuoso. A economia solidaria nao visa o lucro de uma unica pessoa, de um patrao, Ao contrario, ela busca o trabalho associativo ao mesmo tempo que gera e distribui o resultado do ganho de producao entre os varios produtores/prosumidores. Ela tambem usa os recursos naturais de modo que não os extingua pois respeita os ciclos da natureza, assim como os indigenas sempre fizeram desde os tempos imemoriais. É tambem uma opcao pelo comercio justo e solidario, onde os preços refletem melhor a economai real, e nao uma economia virtual enlouquecida como vimos hoje acontecer, que tem sido origem das diversas crises por quais passa o capitalismo e que o levará a derrocada.
  • Curioso como na cultura não índigena haja um dia específico dos mortos, por que para os indígenas isso é todo o tempo. Há muito tempo vemos nossos parentes morrerem, nossa cultura não poder ser exercida em sua plenitude e a morte da Mãe Terra como um dos objetivos do progresso desmedido, do desenvolvimentismo economico sem medir consequências. Perdendo a diversidade das culturas e dos modos de pensar, ver e estar no mundo, todos perdem. Vamos ficando todos parecidos, com pouca variabilidade, na real tudo vai ficando pasterurizado e sem graça.
  • Então concluo - para não terminar - dizendo que de tudo aquilo que deve viver, está a multiplicidade do pensamento, da expressão, da beleza de sermos muitos sendo diferentes. Dessa forma poderemos sobreviver a nós mesmos. Curioso como na cultura não índigena haja um dia dos mortos, por que para os indígenas isso é todo o tempo. Há muito tempo vemos nossos parentes morrerem, nossa cultura não poder ser exercida em sua plenitude e a morte da Mãe Terra como um dos objetivos do progresso desmedido, do desenvolvimentismo economico sem medir consequências. Perdendo a diversidade das culturas e dos modos de pensar, ver e estar no mundo, todos perdem. Vamos ficando todos parecidos, com pouca variabilidade, na real tudo vai ficando pasterurizado e sem graça. Então concluo - para não terminar - dizendo que de tudo aquilo que deve viver, está a multiplicidade do pensamento, da expressão, da beleza de sermos muitos sendo diferentes. Dessa forma, quem sabe?... poderemos sobreviver a nós mesmos.