Nesse encontrinho em Ubatuba, tínhamos muitas coisas para discutir. A pergunta que não queria calar era: o que vamos fazer com o dinheiro do Prêmio Mídia Livre 2010 e como lidar com sua insuficiência diante de tantas coisas que gostaríamos de realizar coletivamente? Entendemos que isso valia uma conversa franca, olho no olho, para que o Mutirão pudesse seguir seu fluxo e encontrar novos horizontes.
Dentre as propostas em pauta, estavam: mutsaz, vídeos, blog, traduções e um livro de artista. Vamos falar de cada uma delas logo mais. Quanto ao dinheiro, alguns aspectos foram aos poucos se delineando:
Grana de prêmio, além de curta, acaba rápido.
Eu não sei se alguém aqui já parou pra pensar no que faria se ganhasse na loteria. Mil planos, imagino, mesmo sem jogar. E a gente geralmente começa por aqueles mais distantes ou que nos deixaria muito felizes. Pois é, apesar de estar muito longe de uma loteria, a vida cultural baseada em editais é algo bem fugaz. Basta parar para colocar no papel (ou na lousa, como em nosso caso), que a gente percebe que dá para fazer bem menos do que se deseja. Até mesmo sem fazer um orçamento detalhado já é possível descobrir isso. Não importa o valor do prêmio, é sempre assim. Felizmente a capacidade humana de imaginar e sonhar ultrapassa qualquer medida. Por isso, se a gente não presta atenção, tudo se esvai e nem nos damos conta do que fizemos. Então, uma questão ficou evidente: precisamos fazer esse dinheiro render, direcionando-o para aquilo que considerarmos prioritário.
Não é possível viver do que se ganha em edital. Muito menos ficar rico.
É muito comum, quando se vive de projeto em projeto, a instabilidade da renda. Mais normal ainda é acreditar que um edital pode mudar isso. Para evitar enganos, é bom lembrar: ninguém – nem mesmo quem está no coletivo editorial - tem direito a salário ou coisa parecida. Tampouco é possível pagar cada um por hora ou seguir qualquer “valor de mercado”. Até porque, se há uma coisa que se critica bastante na Rede Metareciclagem é a tal lógica do mercado, capitalista. Então, agora que temos a responsabilidade de administrar o dinheiro, não vamos fazer mais do mesmo, certo? Experimentaremos outras relações com a grana e, quem sabe assim, podemos construir novas possibilidades entre a gente e pro mundo.
Começar agora, continuar fazendo.
O Mutgamb vai seguir um raciocínio bem simples: o total de dinheiro será dividido pelas propostas e despesas administrativas. Mesmo sabendo que elas custam mais do que temos disponível, ainda assim faremos de modo a contemplar um pouco de cada. O que faltar, a gente corre atrás sempre que possível. E o que precisar, continua como antes – na dinâmica do voluntariado, camaradagem e espírito solidário-coletivo.
E as pessoas, como ficam?
Serão sempre bem-vindas, com suas ideias e vontades. Serão remuneradas apenas aquelas que estiverem altamente envolvidas no operacional de cada proposta. Ou seja, a verba vai para quem tá com a mão na massa pra valer e faria o trabalho mesmo sem receber. Até que encontremos formas de gerar recursos financeiros, a produção de conteúdo em forma de texto, imagem, vídeo, áudio e o que mais aparecer permanecerá voluntária. Para cada proposta, o grupo de pessoas envolvidas decide como vai dividir o dinheiro entre a produção e as próprias pessoas.
Ideias, propostas e trabalho por fazer existirão sempre.
Independente do dinheiro, continuaremos propondo e ouvindo. Todas as formas de participação permanecem válidas e outras podem surgir a qualquer momento. O fato de não haver grana para novas propostas não impedem sua viabilização e muitas das ideias antigas continuam sem verba. Vamo que vamo!