oi felipe, vai mais um. eu mandei uma versao mais completa desse relato para a lista do cultura digital e publiquei uma versao menor, editada no converse.org.br. aqui eu te mando mais ou menos o que teria sido essa versao publica, que nao tenho mais. se quiser mais infos, eh soh perguntar. mas acho que vc publicou uma parte desse relato num zine que vc fez sobre/para a cultura digital, tipo uma coletanea de coisas do converse e tal, que tb nao consigo mais encontrar no gmail... eu tb me lembrava de talvez ter publicado uma parte na lista do meta mas tampouco consigo encontrar.
abraco
tori
a oficina do rio e espírito santo foi minha primeira oportunidade de "praticar" cultura digital. acabou sendo uma experiência de profunda aprendizagem e reflexão, não somente sobre técnicas ou práticas específicas, mas também sobre todo o processo da cultura digital, dos pontos de cultura. foi uma semana de altos e baixos, de frustrações e de grandes alegrias e euforias, com um saldo positivo no final. em inglês diria que foi uma montanha russa (rollercoaster) mas não sei se a analogia funciona em português.
metareciclagem
eu passei a maior parte da semana na parte da metareciclagem. foi um processo bem permeável, ou seja, os pensamentos que surgiram não foram limitadas ao espaço da oficina. por exemplo, na terça feira fui pegar ônibus para ir para a leopoldina e acabei subindo no número 472 na praia de botafogo, destino final 'triagem'! depois peguei esse ônibus todos os dias. na noite de terça para quarta, tive um sono que estava ajudando a montar um laboratório com computadores reciclados. e de fato, estava *tentando*... no sábado, indo para leopoldina, vi um mercado de pulgas (coisas usadas) acontecendo debaixo do viaduto da praça xv e notei que tinha várias pessoas vendendo peças de computadores, como fontes, teclados, placas etc. se tivesse passado pelo mesmo caminho uma semana atrás acho que não teria notado isso, nem reconhecido as peças!
A primeira parte da metareciclagem, na segunda-feira, foi ótima, e teve a participação de muitas pessoas. uma multidão com chaves de fenda e chaves philips, sentados no chão, desmontando os computadores e separando as peças. todo mundo fascinado pelo interior da máquina, adorando o exercício de tratar ela com uma falta de respeito, falta de delicadeza. na terça-feira, menos euforia, e menos pessoas, tinha chegado o momento de tentar montar máquinas. eu tinha esquecido da onde tirei as peças no dia anterior! quarta-feira foi o pior dia. a gente não conseguia de jeito nenhum fazer os computadores funcionarem. queimamos um par de fontes, saiu fumaça e um cheiro estranho. a eletricidade estava complicada, coisas queimando, dando choques. senti uma falta de suporte. entendia que o esquema era se-virismo mas mesmo assim, dava para ver que as pessoas com conhecimentos mais técnicos, com maior experiência do processo metarecicleiro, estavam muito requisitados, correndo de um lado para outro, muito cansados da noite de trabalho. Mesmo aprendendo sozinho, você chega a um momento em que você precisa de uma dica, da oportunidade de trocar uma idéia com alguém que já viviu aquele momento. O grupo de pessoas que segurou a onda e ficou na metareciclagem desta vez não foi tão grande como em outras atividades, como áudio e vídeo.
Já na quinta-feira de manhã, quando cheguei, a energia (!) estava diferente, e subi diretamente no palco onde estavam uns meninos tentando fazer um computador funcionar, me pediram uma ajuda e pude dar umas sugestões, e finalmente o computador acabou funcionando. Então eu vi que minha frustração na quarta era passagera, que tinha passado, que tinha sim aprendido coisas, que tudo fazia parte do processo, e que isso era o mais importante. Aquele "break-through" foi muito importante.
Também deu para sentir uma interessante dinâmica de gênero no processo. Entre as pessoas metareciclando pela primeira vez, talvez os meninos tinham uma média de conhecimento técnico maior que as meninas. Teve momentos que estávamos entre meninas, mexendo com um computador, tentando descubrir o que colocar aonde, e chegava um menino de algum ponto (ou chegando sozinho ou porque a gente tinha chamado ele) e algumas vezes esse menino tomava o comando, ficava fazendo coisas sem dar explicações, ocupando o espaço. Não todos os meninos, era uma minoria, mas acontecia as vezes. E eu sentia que eu deixava acontecer isso, que eu ficava mais passiva naquele momento, o que não era a atitude certa. então eu acho que para apoiar a participação de meninas na metareciclagem também é importante que tenha meninas participando que saibam fazer aquilo, que possam dar dicas etc. já tendo passado pelo processo uma vez, tudo é diferente e você ganha uma confiança grande, de poder fazer coisas e poder ajudar os outros, se precisarem.
na sexta feira, quando já tinha mais computadores funcionando, mas nem tantos, deu para ver que talvez tinha sido positivo que o laboratório de computadores tinha ficado no processo, e não no resultado. sem os computadores para distrair, ler email etc, durante o resto da semana, as pessoas tinham se empolgado em fazer áudio, vídeo, animações, etc...ótimo!