MetaReciclagem e a importância das redes

/dani matielo

Original em http://dacamat.com.br/drupal/content/metareciclagem-e-importancia-das-redes

Participar da lista do Meta e observar os movimentos, as construções (e algumas destruições), nos últimos meses, tem feito com que eu refletisse sobre o conceito de "rede" e principalmente "rede aberta". Há quanto tempo falamos de redes? Sociedade Rede, escreveu o Castells, dizendo que a tecnologia potencializava essa organização que desde sempre fez parte da nossa existência humana.

Inúmeros autores também escreveram sobre redes, e nos últimos dias tenho brigado com um artigo que tem título comercial "Web 2.0 to empower communities: reviewing digital literacy in telecentre projects" cujo principal argumento é que se queremos realmente promover a transformação social, não basta que os usuários saibam usar o Word. Nem mesmo que saibam criar um blog. Para que a tecnologia possa realmente contribuir para a tão necessária e prometida mudança, é preciso que ela seja capaz - de colocar as pessoas em rede.

Mas hoje não queria fazer um post acadêmico. Pensei que talvez, como observadora/participante que chegou tarde na festa, minha maior contribuição para a conversa seja essa: um olhar ingênuo, que se impressiona e reflete sobre essa dinâmica em rede. Porque uma coisa é discorrer sobre a potencialidade, e outra, diferente, vê-la se desenrolando de maneira concreta, todos os dias. De repente, o "treinamento" do olhar etnográfico realmente serve pra alguma coisa.

Nesse sentido, queria deixar reflexões - insights - sobre o que vejo, mesmo sabendo que corro o risco de ser um pouco lírica. Mas não tem problema: o romantismo também faz parte da apropriação e do dia a dia da Rede.

Queria falar, então, sobre a idéia de que pertencimento gera valor. Pertencemos todos a muitas redes. Mas foi observando o dia a dia, as conversas e os trabalhos, os contatos, que xs metarecicleirxs fazem, que finalmente entendi o que realmente significa que fazer parte de uma rede pode contribuir para a sua vida e seu crescimento. Não estou falando do conhecimento - talvez ironicamente, o aprendizado, individual e coletivo, de fazer parte de uma rede seja a coisa mais óbvia de se perceber nas dinâmicas em rede e nas conversas - porém de contribuições mais pragmáticas. Fazer parte da rede MetaReciclagem, e apresentar-se como tal, possibilita a abertura de muitas portas, permite o estabelecimento rápido de contatos em um chão compartilhado. Dá acesso a um mundo de possibilidades - editais, pesquisas, parcerias - que se baseiam em um trabalho que foi realizado, não por uma pessoa, ou uma empresa, mas por uma rede.

Que, na prática, qualquer um pode fazer parte - desde que esteja alinhado com a proposta e, talvez tão importante quanto isso, disposto também a contribuir com a Rede. Compartilhar. E as dinâmicas do dia a dia refletem isso: o grau da entrega, do envolvimento, também está refletido em como a rede influencia e é vivida por cada um de seus participantes. Existe a opção de uma participação menor, ainda que se não existe contribuição efetiva, a Rede se desvanece. Entretanto, uma contribuição menor (por diferentes motivos) acarreta uma sensação de participação menor, e portanto pertencimento, e também de usufruto, menor. A Rede sobrevive pelo investimento na própria Rede, que também poderia ser "contabilizado" com contribuição: existem diferentes formas de participação, e a medida não é a quantidade.

É como uma fazenda comunitária (ainda que haja o movimento contra os Walled Gardens, porém minhas metáforas estão irremediavelmente comprometidas pelo meu último vício), em que cada um pode colher não aquilo que plantou, necessariamente, mas aquilo que sente que precisa e "tem direito". Não é "grátis", mas é "livre".

E essa liberdade, essa abertura, é também uma das ferramentas que contribui para potencializar a Rede: ela não tem um tamanho limitado, e portanto é infinita. Podem existir sub-grupos, "sub-interesses": existem as ConecTazes, quando gente suficiente, sufiecientemente interessada em determinado assunto, faz um esforço conjunto para levar a cabo uma iniciativa. A iniciativa acontece, passa, a experiência fica, para ser compartilhada com outros. Imagino, apesar de não ter presenciado, que as ConecTazes também possam ser "revividas", por outras pessoas, em outros momentos. Afinal, na prática, não existe ensaio, como dizia Milan Kundera, tudo é feito de improviso.

E é por tudo isso que acho especialmente sensível e interessante a proposta que deu origem a este post, do "Dia da In(ter)depência" da Rede MetaReciclagem. Porque, na prática, entendo que fazer para fazer parte de uma rede é preciso, sim, autonomia e independência, mas também um reconhecimento de que é na colaboração e na contribuição, na vivência cotidiana da interdependência, que a potência do estar em rede se realiza.

E, talvez tudo isso já tenha sido dito antes. Mas, como bem disse o Orlando, o reacesso é sempre transformador, idéias são expressadas e re-expressadas o tempo todo. Conversas repetidas também geram valor, porque alcançam mais gente, como a experiência do Conectivismo no Bailux, que o Regis postou recentemente: talvez a proposta já tenha sido discutida antes. Mas por outras pessoas, em outros momentos. Reacessar também é criar.