/hudson
Hoje, 07 de Setembro, feriado nacional, dia em que comemoramos a Independência do nosso País - onde ecoou um grito de liberdade da nação bra- sileira também ocorreu um evento marcante a um grupo de pessoas que lutam pela interdependência de uma rede.
Eclode um movimento - que mostra a força das redes (tradicionais, biológicas ou digitais) demonstrando a importância da troca de conhecimento entre as pessoas - denominado “DIA da In(ter)dependência”. Participando desse movimento, trago minha pequena contribuição falando sobre a In(ter)dependência do MetaReciclagem em Sorocaba.
Há 5 anos, já existia aqui na cidade um grupo de pessoas desenvolvendo e fazendo MetaReciclagem em Sorocaba. Era o Nave.org, onde trabalhavam com o conceito de inclusão digital para a população sorocabana, que atualmente faz parte do coletivo MetaReciclagem. MetaReciclagem não é curso de Hardware, manutenção de computadores. Mas sim uma nova perspectiva de visualizar os atuais conceitos da utilização da tecnologia em nossas vidas, é uma rede distribuída que atua desde 2002 no desenvolvimento de ações de apropriação de tecnologia, de maneira descentralizada e aberta. Agrega projetos independentes relacionados a arte, design, educação e tecnologia de coletivos e pessoas. Tem como bases a desconstrução de hardware, o uso de software livre e de licenças abertas, a ação em rede e a busca por transformação social. Em Sorocaba nasceu também um projeto com os mesmos ideais, que foi o MetaJIM, onde iríamos disseminar os conceitos do metareciclagem para a população sorocabana, que aconteceu em 14/04/2007.
Foi o primeiro caso em que a metareciclagem começou a transformar vidas e mostrar que o mais importante no uso das tecnologias são as pessoas que delas usufruem, a fim de transformar suas próprias vidas. Em outubro, a Prefeitura Municipal de Sorocaba convidou alguns metarecicleiros (Dalton, Andre, Joe, ...) para ampliar os ideais do metareciclagem. Foi onde nasceu o projeto MetaSorocaba, como um projeto mais amplo e com apoio de uma instituição de grande porte, pois já havia outro projeto chamado MetaClave, onde estávamos estudando como implementar os conceitos do metareciclagem na educação.
Assim surge o projeto METASOROCABA, que seria uma das ações que englobam o projeto “Bairro mais Feliz”, iniciativa da Prefeitura de Sorocaba com o objetivo de realizar um programa de oficinas e formação de comunidade para um grupo de 200 jovens do bairro Nova Esperança para uma ampla formação num processo de inclusão digital e geração de renda, através da metodologia de MetaReciclagem.
O projeto MetaSorocaba permite que a comunida- de se aproprie da sua unidade, transformando-a em um espelho cultural do local em que foi implementada, concedendo também aos cidadãos a liberdade de decidir, via conselho gestor, os rumos das atividades que são oferecidas aos frequentadores.
Será um espaço comunitário, de uso gratuito e acesso irrestrito, para promover a inserção tecnológica, a divulgação da ciência, cultura e arte, gerando a ampliação da cidadania através de grandes fios condutores como: democratização das comunicações, compartilhamento de conhecimento, valorização étnica, respeito à diversidade e desmitificação das tecnologias. Terá o objetivo de propiciar que os cidadãos sejam incluídos digitalmente de modo que não apenas aprendam o mínimo de informática, mas possam participar da vida em sociedade, questionando e agindo frente os problemas socioeconômicos de nosso país, exercendo assim seu direito de cidadão, contribuindo para a melhoria do ensino, aprendizagem, reciclagem e ações para o desenvolvimento humano no município de Sorocaba, por meio de uma política de inclusão digital cujo foco será a introdução das novas tecnologias e ferramentas como instrumentos de apoio ao processo educacional e de capacitação tecnológica da população socialmente desfavorecida, através de um movimento descentralizado, que tem como objetivo a autonomia tecnológica no hardware e software e a consciência ecológica, chamado MetaReciclagem.
Esse projeto é voltado para a tecnologia social, alicerçado nas possibilidades de replicação de conhecimentos e ideias. O processo envolve o desmanche das máquinas (computadores obsoletos), seleção de peças (hardware) em boas condições, pintura de gabinetes e monitores, desmitificação da tecnologia e recomposição dos equipamentos, despertando não só o conhecimento técnico, mas também a importância dos princípios colaborativos de grupo. Esse movimento em que o projeto se dedica a aplicar é baseado em Software Livre, permitindo rodar em máquinas menos potentes (lowtech), cumprindo com muito sucesso tarefas como escrever textos, planilhas, trocar e-mails, comunicação instantânea, acesso à internet, etc.
Trabalhar com MetaReciclagem é a arte de transformar, melhorar, transcender uma ideia e, no caso da inclusão digital, o lixo eletrônico, em ferramentas de apropriação tecnológica para transformação e desenvolvimento social. A MetaReciclagem vai além do trabalhar técnico, ela propõe humanizar as tecnologias como fonte de conhecimento e desenvolvimento para a formação de jovens, adolescentes, crianças e idosos. As oficinas do MetaSorocaba, em princípio, aconteciam no MetaJim, pois a Prefeitura estava arrumando o futuro espaço para as oficinas Metasorocaba. O programa de oficinas tinha como objetivo a formação de comunidade metareciclagem para um grupo de 50 jovens do bairro Nova Esperança que, para uma ampla formação num processo de inclusão digital e multiplicadores de conhecimento, seria divido em duas turmas de 25 jovens.
Os objetivos seriam:
- Promover o acesso da comunidade de baixa renda à tecnologia, incluindo socialmente e digitalmente através da MetaReciclagem, valorizando a ação para conservação do patrimônio constituído para o funcionamento do laboratório ou telecentro;
- Desenvolvimento da consciência de trabalho em grupo para colaboração com a comunidade, trocando experiências e compartilhando conhecimentos;
- Gerar independência tecnológica na manutenção de laboratórios e telecentros;
- Possibilitar a criação de uma cooperativa de trabalho para prestação de serviços de ótima qualidade à comunidade de baixo IDH, fomentando a auto-sustentabilidade local para criação de outras ações de cunho social e tecnológico;
- Despertar a criatividade para utilização da tecnologia para outros fins além da computação apenas;
- Utilização do computador e da Internet como instrumentos de apoio à educação escolar, ao acesso a emprego e renda, e ao exercício da cidadania;
- Contribuir com a melhoria da qualidade da educação básica, permitindo que alunos das escolas públicas utilizem novas metodologias de aprendizagem e acessem um maior volume de conteúdos curriculares e extracurriculares, proporcionando melhoria no nível educacional e cultural;
- Possibilitar uma reflexão ampliada, junto ao público-alvo, sobre a importância do conhecimento e do trabalho como processo de crescimento pessoal e social.
E suas metas:
- Tornar-se referência para a campanha municipal de arrecadação de equipamentos considerados obsoletos ou não;
- Montagem de turmas em diversos locais do município, para a execução de oficinas similares, com os multiplicadores saindo dessas oficinas aptos a atuar na recuperação de equipamentos doados para constituição de novos laboratórios e telecentros como resultado da ação;
- Capacitação de pessoas para gestão e manutenção de telecentros e laboratórios;
- Criação de projetos para auto-sustentabilidade dos diversos telecentros e laboratórios;
- Avaliação do impacto do Projeto, nas escolas e comunidades atendidas, em relação ao uso dos recursos tecnológicos e da informação no processo de ensino e aprendizagem e no aproveitamento das oportunidades locais ou regionais de trabalho, emprego e renda;
- Captação de computadores antigos (lixo digital/sucata tecnológica) que são retirados do mercado devido à falsa obsolescência incentivada pela indústria, e que, por essa razão, possui um valor comercial bastante reduzido;
- Construção de novos computadores a partir da sucata.
- As máquinas deixam de estar na posse do projeto para que passem a pertencer àqueles que as reciclaram;
- Todos podem desmontar os computadores, examinar e trocar os componentes, construir conhecimento a partir da própria tecnologia como um todo, do hardware ao software;
- Pintura dos computadores, onde antes eram vistas como sucata, agora são personalizadas de acordo com os interesses de cada um, tornando-se artefatos culturais fruto da autoexpressão do utilizador;
- O lixo resultante do processo de reciclagem constitui um novo meio de subsistência econômica para as comunidades. Depois de separados, o plástico duro, o metal, os cabos e outros materiais das máquinas podem ser vendidos separadamente. Os computadores reciclados também podem ser comercializados a baixo custo à população local;
- Ocupação de espaços em centros comunitários, mediante a criação de telecentros para acesso da população à tecnologia reciclada. Os próprios laboratórios de reciclagem são transformados em centros locais de formação profissional;
- Utilização e desenvolvimento de software livre por ser a opção tecnológica mais econômica à medida em que o código dos programas pode ser adaptado às necessidades específicas das comunidades no seu cotidiano;
- O sistema operativo GNU/Linux é instalado em todos os computadores reciclados, o que evita a dependência de soluções proprietárias e permite a distribuição legalizada das máquinas e do software.
Em Dezembro de 2007 foi lançado o “Projeto Bairro Mais feliz”, em que os jovens fizeram uma apresentação à comunidade e mostraram o potencial do projeto junto a população Sorocabana. O espaço já contava com a montagem do telecentro, onde os próprios jovens construiriam esse processo com auxilio do coletivo MetaReciclagem. Em março de 2007 houveram algumas mudanças, feitas pela Prefeitura, no projeto, e nós, do Coletivo MetaReciclagem, não mais participávamos da gestão e execução das oficinas, e os jovens participaram da inauguração do Espaço MetaSorocaba.