Cotidiano em rede

Outro dia, no trabalho, precisei da ajuda de um colega revisor - tempos de Reforma Ortográfica. Queria saber se “não-formal” ainda precisava de hífen. Ele me respondeu que não, assim como “não governamental”. --- Fiquei pensando se isso tornaria a negação menos potente. Ou seja, se as regras e a Língua têm o poder de interferir na vida além do texto. Se elas teriam alguma contribuição para a superação de determinados paradigmas modernos, característicos do século XX, construídos pelo acúmulo dos anteriores. Me refiro à diluição das fronteiras, à separação rígida e estanque entre as coisas – sobretudo das ideias e conceitos, que acabam por distanciar as pessoas e intensificar os conflitos a ponto de torná-los insustentáveis e desnecessários, em vez de ricos e estimulantes.

Antes que me aprofundasse na divagação, meu amigo me enviou outro e-mail. Continuamos a falar so- bre a reforma e a mensagem seguinte soou como peripécia: “Este é o ano em que a feiura perdeu o acento”. A frase não havia sido escrita por ele, apenas apropriada e comentada: “Fofo né?”, em suas próprias palavras. Eu gostei e tentei retribuir de forma análoga: “Enquanto a feiura perder o acento está tudo bem, o problema é as ideias perderem a abertura”.

Esse agradecimento pelo aprendizado materializado em forma de oração foi suficiente para encerrar a conversa. Ainda não entendi a tal regra do hífen, mas creio na força do hábito e no convívio entre as pessoas...