Regras de Jogo

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qui, 12/10/2006 - 16:07
Submitted by felipefonseca

Vou escrever aqui porque o sistema de autenticação de usuários do moin é um lixo.

Apanhei (para ser mais sincero, acompanhei o sofrimento do Rhatto) para configurar esse sistema.

Não consegui logar no wiki
http://oxossi.metareciclagem.org/moin/Gambiarra, nem tenho como
recuperar minha senha. Alguém mais teve este problema?

Felipe Fonseca wrote:
> Enton, meninas e cumpadis
>
> Eu ia elaborar mais por aqui, mas sacumé,
> release early release often. Vqv.
>
> A parada é a seguinte: MetaReciclagem
> começou com duas ou três pessoas sem
> rumo passando parte de seus fins de
> semana num galpão insalubre da zona
> sul de São Paulo. Não, MetaReciclagem
> começou antes, como idéia dentro do
> projetometafora, mas essa história já
> tá contada pelos cantos da web. O
> esquema é que de repente, o esquema
> foi crescendo, em parceria com uma ou
> outra ONG, depois com apoios formais
> ou informais de uma ou outra ação
> governamental, até virar uma coisa
> descentralizada que ninguém mais
> sabe explicar, que funciona de maneira
> aberta mas não tem regras internas
> muito claras (e talvez não precise,
> ou talvez ainda não precise, sei lá).
A gente pode lidar com a normatividade de dois jeitos:

1 -  Pirando em regras de jogo bem minuciosas, que prevejam todas as
jogadas; neste jogo soma-zero, quem ganha faz o outro perder, podem-se
até desenvolver táticas e estratégias (que funcionam como um segundo
plano normativo), mas o conjunto de regras de jogo permanece o mesmo, o
jogo se desenvolve cronologicamente segundo correlações de
causa-conseqüencia. Isso é um "jogo real", modelo dos jogos com os quais
brincamos, do truco às bolsas de valores, para não falar na política
institucional que segue.  É assim que para a "teoria da  escolha
racional" (derivada da "teoria dos jogos") se organizaria a sociedade
como um /sistema/.

2 - Pirando em princípios de jogabilidade bem gerais, que sirvam para
criar um espaço de convergência de ações e construam em linhas gerais
alguns objetos para os quais estas ações se dirigem; mas estas regras
são mudadas a cada lance, não há distinção entre elas e as estratégias e
táticas emergentes, cada ação as reconstrói e o jogo não é o mesmo a
cada momento nem para cada jogador. O "jogo ideal", neste caso, é o
modelo do pensamento, na arte, na filosofia e na política instituinte...
e da transbricolagem/metareciclagem, em se tratando da lida com
ferramentas e máquinas.

Claro que não dá para ser um jogo puramente ideal. Mas dá para o MetaRec
formular suas regras para si de modo a ciclicamente arrebentá-las,
retomando-as como princípios a cada ciclo.

> Mas o esquema é que MetaReciclagem
> sempre foi mais eventual: pessoas
> que põem o rótulo MetaReciclagem
> em suas correrias.
Não acho que "aderir" à MetaRec seja simplesmente "por um rótulo".
Quando identificamos atividades como metarecicleiras, elas mudam de
sentido e passam a se comunicar com todo o processo de metareciclagem
que se pratica e se conceitua. Parece-me que a questão é a da
"colheita": o conceito de MetaRec interpreta nossas ações,
transformando-as e colocando-as em virtual comunicação umas com as
outras. O que se sugere aqui (no texto do ff) é um esforço de
/atualização/ desta comunicação.
>

> A idéia de institucionalizar, levantada
> por alguns aqui, é menos importante
> do que a intenção que acredito que
> exista de organizar as interações que
> existem, de fazer as coisas acontecerem
> de maneira que dê oportunidade de
> todo mundo participar. Então, eu acho
> que tá na hora de fazer as coisas
> para "a" MetaReciclagem em si, não
> apenas beneficiar outros projetos
> com a MetaReciclagem.
Concordo. Mas acho que o grande perigo de qualquer institucionalização é
que nunca partimos do zero. A cizânia do MetaRec há alguns anos
(MetaClubeDaLuta, lembram?) foi resultado da enorme pressão de um modelo
de institucionalização sobre um processo intuitivo e frágil de
construção de um modelo institucional autônomo. Instituicionalização não
é questão de sim ou não, mas de criticar modelos, capturar e explicitar
as singularidades organizativas do MetaRec e aí bolarmos dispositivos
institucionais que nos permitam ter autonomia sem com isso termos que
fingir que ignoramos a existência de Estado Burguês, Ordem Democrática
de Direito, Mercado Capitalista e Orgulho Invidualista.
>
>
> Daí a idéia: chamar o próximo ano,
> ou até o próximo semestre, de
> época fundamental numa grande
> transformação na MetaReciclagem.
> Que cada umx faça suas propostas,
> pois que somos descentralizadxs
> e abertos. Mas abaixo o que eu
> pretendo fazer no próximo semestre,
> se tudo der certo e os recursos
> aparecerem:
>
> * estabelecer o MeMeLab[1] em sampa,
> Laboratório de Mídia da MetaReciclagem.
> Em essência, um espaço físico pra reunir
> a galera, sem depender de nenhuma
> ongue ou instância governamental, que
> foi o que fodeu nos primeiros esporos
> de sampa.
(1) O Estilingue se propõe como um tal laboratório, em BH. Diante do que
podemos pensar em uma /rede de laboratórios/.
(2) Acho que a gente deve abandonar o conceito de meme e denominar esses
laboratórios como MetaMidiaLabs ou coisa assim

Arrisco a offtopicar demais, mas acho que é preciso dizer porque penso
haverem poucos conceitos que sejam tão perniciosos como o de meme. Vou
tentar ser sucinto, mesmo porque não tenho palavras suficientes para
descrever o quanto detesto esta pseudo-ciência neo-cartesiana chamada de
"memética". Para os pacientes, recomendo a leitura de

http://www.helsinki.fi/science/commens/papers/memetics.pdf

Meme é um conceito que trata a produção de sentidos segundo o modelito
dos "genes egoístas", ou seja, trata-a com resultante de elementos
discretos de um código, os quais são OU mantidos OU descartados. Pela
memética, descarta-se a idéia de que a produção de sentido é um processo
aberto de conexão entre mentes e coisas através de objetos e idéias,
COMO SÃO OS SIGNOS.

A primeira grave inconconsistência dos memética é que supor que existam
unidades mínimas de sentido, mas não é capaz de apontar nenhuma, porque
não existe unidade mínima de sentido (me apontem um "meme" qualquer que
não seja composto por outras unidades que são compostas por outras, e
assim por diante!). A segunda derrapada é que supõe que esta unidades
tem total independencia do contexto e dos intérpretes (mas me mostrem um
desses "memes" que circulem sem ser alterados e transformados pelas
situações de uso!).

A terceira, particularmente grave, é que os memes são concebidos como
entes que circulam no mundo mental/cultural e este não se comunica com o
mundo físico e fenomênico. Memes geram memes que garam memes... mas como
é que eles entram em circulação? Onde está a teoria da percepção da
memética? Tudo que faz sentido, mesmo que extremamente fragmentário,
emerge da perspectiva de organismos vivos sobre aquilo que eles precisam
ou os ameaça. Isso pode ficar latente durante zilhões de anos, mas toda
unidade de sentido é apegada a algum uso e virtualmente sempre se
apresenta como solução para a vida concreta, prática. Pensar o contrário
disso, como a memética, é pensar que nossa mente é imaterial, destacada
da mente divina e que esta é algo completamente descolado do mundo
físico. Chama-se cartesianismo, e todos nós sabemos o que ele permitiu
em termos de dominação e exploração de certos organismos (chamados de
capitalistas) sobre o resto do mundo da vida.

Eu não vou nem me ater ao fato de que a geração de signos pelos signos
(inclusive nós, pessoas, somos signos) é algo bem conhecido da semiótica
há pelo menos cem anos. O que me preocupa realmente é que a memética, ao
pensar processos de produção de sentidos com esse descolamento da vida e
dos viventes, presta-se com perfeição às estratégias de controle
político a que o tecnocapitalismo agora tenta nos submeter. Disfarçado
de "meme", um boato malicioso além de fazer seu estrago habitual, não
pode ser criticado pelo seu caráter ideológico. Vejam, por exemplo, os
memes que a direita anda soltando por aí para afastar "essa raça" do
poder (minguado) do Estado brasileiro.

Não existem memes, existem signos: não são reproduzidos simplesmente,
crescem e se combinam fundindo-se em signos mais desenvolvidos, não são
independentes do contexto nem dos intérpretes.

>
> * fazer um processo de residências
> "artísticas" (vide thread sobre MetaReciclagem
> e arte nos arquivos[2]) durante dois meses,
> chamando duas pessoas pra pirar durante
> esse tempo (março e abril?) no MeMeLab,
> com o suporte dxs nossxs aliadxs Glauco,
> Palm e outrxs, e com seminários quinzenais
> sobre hardware, linux, PD e outras apropriações.
Novamente: O Estilingue se apresenta. Querem vir para BH? Precisam do
que? (É legal começar a pirar o labo Estilingue desde já, porque assim
teremos pernas para correr atrás de recursos para realizar as coisas ano
que vem!)
>
> * preparar finalmente aquela publicação sobre
> a MetaReciclagem, chamando todomundo aqui
> pra mandar suas colaborações.
Sugiro que montemos um grupo para fazer uma proposta de eixos temáticos
e para indicar os componentes de grupos de trabalho dedicados a cada
tema (claro que todos poderiam mudar de tema ou palpitar uns nos
escritos dos outros...). Depois disso, os grupos temáticos fariam um
plano de escrita e, à medida em que fossem sendo executados, fariamos
ciclos de discussão uns sobre os textos dos outros, que tal?

>
> * realizar, finalmente, o primeiro encontrão
> intergaláctico de metarecicleirxs, em sampa,
> no fim de abril ou começo de maio.
FF é o gaucho mais paulistano que eu conheço! Vós não quereis variar de
lugar?
>
> A isso tudo, se não houver idéia melhor, podemos
> chamar de "Ciclo Gambiarra" ou algo parecido.
> E os recursos pra
> isso, de onde virão? Sei lá. E eu, vou trabalhar
> nisso como, se nem sei se estarei contratado
> depois de janeiro? Sei lá.
>
> A quem quiser correr atrás, a sério, aceito
> todo tipo de ajuda.
Não sei se é o Tao ou a semiose universal que faz isso, mas vejam que
esta proposta do ff vem no mesmo momento em que diversos outros grupos
tentam fazer a "colheita" conceitual e metodológica de seus "plantios":

    O CMI Curitiba, BH e Goyania tem discutido seriamente o
    desenvolvimento metodológico para ampliar o acesso às plataformas
    fornecidas pelo indymedia. Particularmente, o CMI Goyania propôs
    fazer um encontro lá, no reveião, só para isso. Temas conexos  foram
    objeto de particualr atenção na última reunião nacional do cmi:
    formação de novos techs, metodologias para integração com movimentos
    sociais, metodologias para aprendizado na produção de mídias. Muito
    em função disso, abri a lista metodaprop (vide cabeçalho deste
    e-mail). O intermitente e neglitenciado esforço de auto-documentação
    do CMI Brasil também tem esta preocupação, a meu parecer.

    Aqui em BH, o coletivo radiola tem optado por fazer a incorporação
    de novos radialistas através de oficinas. Recentemente fizemos um
    "curto-circuito de oficinas", que nos levou a procurar bolar
    estratégias e táticas mais aperfeiçoadas.

    Também em BH, membros da Associação Imagem Comunitária chegaram à
    conclusão que, depois de quase quinze anos de produção de vídeo
    comunitário, é urgente formular princípios conceituais e
    metodológicos e desenvolver um sistema de jogos de aprendizado para
    a expressão de mídias. Com essa preocupação estão também outros
    grupos como o Centro de Convergencia de Novas Mídias (no Centro
    Cultural da UFMG).

    Quanto ao Bailux, o Regis já disse tudo. E acho que os outros
    coletivos que tem aderido à MetaRec não deixam de querer dar um grau
    na sistematicidade das práticas, se não me engano.

    Tenho conversado sobre essas coisas também com a Fabi Balvedi, já
    que o Estúdio Livre além de ter esstas propostas implícitas, seria
    uma plataforma já existente para publicação de experiências de
    produção e aprendizado de mídias. Também andei falando com o Leo
    Germani sobre essas coisas, ainda mais que ninguém sabe o que vai
    virar o Cultura Digital depois dessas eleições (para evitar o perigo
    do conhecimento se dispersar com a eventual dispersão, em termos
    institucionais, das pessoas do CDig).

Diante disso, a proposta é: VAMOS CONVERGIR?

Estive pensando na seguinte plataforma (preliminarmente chamada de R19,
rede 19, em alusão ao direito da declaração universal relativo à
liberdade de comunicação, mas não há porque ter qualquer apego à esse
antropocentrismo...):

    1 - Formação, em organizações e redes as mais diversas, de coletivos
    dedicados ao desenvolvimento de metodologias para apropriação
    pública de mídias. Cada nódulo desses teria uma programação própria,
    mas acessível à discussão pelos outros nódulos, como num sistema de
    confederação.

    2 -  Criar um repositório unificado de relatos e registros de
    experiência, how-to's, jogos de invenção mediática, artigos de
    reflexões teórico-metodológicas, críticos e meta-críticos. (O EL já
    poderia ser usado dessa maneira, faltando apenas um adensamento das
    conexões em termos de críticas e encadeamento das propostas práticas
    em sisteamas de aprendizado)

    3 - Criar uma interface geral para esse repositório e interfaces
    particulares, ajustadas aos focos específicos das organizações e
    redes de ação associadas.

    4 - Definir linhas de ação público-política, institucional e
    não-institucional para que estes conhecimentos sejam tanto
    incorporados às práticas cotidianas da população quanto se tornem
    políticas públicas de cultura, educação e tecnologia. Ou seja, nosso
    esforço virar moda e virar lobby :-P .

(O link da R19 é http://r19.sarava.org . Não tem quase nada lá, quem
quiser logar e mexer , me dê um toque.)

Abraços e beliscadas, Stalker!
>
> [1] http://memelab.metareciclagem.org
> [2] http://arquivos.metareciclagem.org
> [3] http://oxossi.metareciclagem.org/moin/Gambiarra

 

Autor (a): 
Stalker