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Operação Pirata
Enviado por hernani dimantas | 05/10/2006 |
Um projeto colaborativo se faz com esforço coletivo. Uma operação voluntária. Não é possível estabelecer vínculos entre essa ação caótica com os métodos de administração tradicional. Toda vez que tentamos administrar caímos na armadilha do velho mundo: Uma administração voltada para o negócio, e não para projetos.
Uma sociedade pirata, então, não era uma sociedade igual às outras:
As condições ideais incluíam proximidade com rotas marinhas conhecidas, nativos (e nativas) amistosos, isolamento e grande distância de toda autoridade e realidade de potência européia, um agradável clima tropical e talvez um posto comercial ou taverna onde pudessem gastar o butim. Estavam preparados para aceitar liderança temporária em situação de combate, mas em terra preferiam a liberdade absoluta mesmo se ao preço da violência. Na busca pelo butim, estavam dispostos a viver ou morrer pela democracia radical como princípio organizador. Mas no desfrute do butim, insistiam na anarquia. [WILSON, 2001:173]
Desta forma, penso num navio como uma célula motivada para alcançar um objetivo. No caso, pirata era a pilhagem de outros navios. Homens se reuniam para esse fim. Carregavam comida e estratégias (muitas bandeiras diferentes para ludibriar os oponentes) para o mar. Mas o mais importante era a capacidade de tomada de decisão autônoma e a informação. O navio pirata era independente. Contava apenas com suas próprias armas.
Estamos começando a viver numa sociedade em rede. O terror, os partidos políticos e a pirataria sempre se valeram melhor da rede do que a sociedade concebida sob a égide da cultura de massa. E estamos começando a perceber que para viver em rede temos que perceber seus meandros.
Projetos independentes e colaborativos como o MetaReciclagem só podem se desenvolver se pensarmos de forma pirata. Células orientadas a projetos. Autonomia de gestão. Muita informação fluindo entre as partes e, principalmente, a convicção de que cada célula representa o todo. E assim termos a certeza da construção de um projeto comum e rizomático. Cada membro do grupo necessita contribuir como base para os outros.
Richard Barbrook diz que no fim do século 20 o anarcocomunismo não está mais confinado entre em os intelectuais de vanguarda. O que antes fôra revolucionário agora é banal. Ele diz que:
“as pessoas participam dessa hi-tech gift economy, ou seja, uma economia na qual os bens estão disponíveis tão abundantemente que fluem livremente. Uma economia que, de certa forma, rege a prática do conhecimento livre. Para muitas pessoas a ‘gift economy’ é simplesmente o melhor método de colaboração no espaço cibernético. Nessa economia mista da Rede, o anarcocomunismo se tornou uma realidade do cotidiano.” [BARBROOK,1998]
Colaboração é a palavra do século XXI. Linus Torvalds causou um alvoroço enorme ao liberar o código numa lista de debates. ‘Release early and release often’ (libere cedo e libere sempre) passou a redesenhar um modelo de produção. Colaboração como capital social. Colaboração para fazer qualquer coisa que o desejo provoque. Colaboração como condição de sobrevivência.
A entrada da internet como ferramenta de catalisação de redes modifica as estruturas burguesas e, por incrível que possa parecer, essa ferramenta fez um estrago nas idiossincrasias dos poderosos. A internet é maquínica, pois recria no âmago da sociedade um poder nômade que se recria a cada instante, catalisado pelos nós das redes. É uma reviravolta nos dogmas ocidentais.