O contexto da MetaReciclagem

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O contexto da MetaReciclagem

A população do Brasil está em torno de 200 milhões de pessoas. Somente 21% acessam a internet. O gargalo da exclusão é enorme, tanto a exclusão social como a digital. Sérgio Amadeu conclui que

“Muitos dirigentes públicos e empresariais ainda acham que o uso do computador só é importante para a profissionalização da população. Essa visão constitui a cultura do uso limitado da tecnologia e deixa de lado a dimensão da cidadania. Sem dúvida é urgente e prioritário implantar laboratórios de informática em todas as escolas e conectá-las à rede informacional. Mas é insuficiente incluir no mundo digital apenas a criança e o adolescente escolarizados. E os adultos e os demais adolescentes, que estão fora da escola? Onde exercerão seu direito de comunicação? O acesso à comunicação? O acesso à comunicação em rede é a nova face da liberdade de expressão na era da informação.” [SILVEIRA, S.; 2004; 43-44].

Não parece tão simples encarar esses problemas pelos métodos tradicionais.
O MetaReciclagem tem uma proposta de política pública para enfrentar o desafio da inclusão digital. Em primeiro lugar, o MetaReciclagem contraria a lógica da indústria da obsolescência, pois encontramos uma quantidade enorme de computadores usados e sucateados disponíveis no Brasil e, com a utilização de tecnologia compartilhada e livre, é possível aumentar a vida útil desses computadores. Em segundo, a reciclagem e a utilização de tecnologia livre, mais especificamente low-tech, possibilitam a diminuição dos espaços entre as comunidades ricas e pobres. A frase “periferia é o centro” exemplifica esse fluxo. A periferia conhece muito mais sobre rede, mutirões, participação e mobilização. Creio que os esforços de inclusão devem ter como premissa que o conhecimento está na periferia, e que a produção local deverá passar pela inserção da tecnologia nos movimentos da comunidade.

E para combater a miséria, a exclusão e o não exercício da cidadania temos que pensar em soluções criativas de integração das periferias com a tecnologia. Dar acesso à rede é importante, mas o mais consistente é criar condições para a circulação da informação.

Pensamos que a inclusão digital só será potencializada quando entendermos que as necessidades das pessoas não são as mesmas necessidades daqueles que concebem os projetos.

Em primeiro lugar, vamos contextualizar as fases deste processo de inclusão digital. Podemos dividir em duas fases:

fase 1. - acesso ao computador

fase 2. - acesso à informação

Estas situações são bastante diferentes. A primeira fase pode ser resumida por uma pergunta: para que precisamos do computador? Empregabilidade pareceu ser uma resposta que atendia a todos atores envolvidos. Ensinar computação ao povo necessariamente contribuiria para que os novatos rompessem com as fronteiras do trabalho. Essa idéia não se mostrou verdadeira. Com certeza não foi a melhor pedida.

Mas com o acesso à internet (e, por conseqüência, o acesso à informação) começamos a perceber que as pessoas estão conversando com outras pessoas através da rede. Essa conversação traz na bagagem um novo incentivo cultural, catapulta as inteligências para novas instâncias. Assim, em vez de se orientar à empregabilidade, poderíamos disponibilizar ferramentas para a reverberação das vozes desses protagonistas. A retomada da voz é um atalho para a cidadania.

A experiência dos Telecentros da Prefeitura Municipal de São Paulo é muito interessante. Foi relevante pelo pioneirismo na utilização do software livre como plataforma de acesso à rede. O software livre significa, além da economia na aquisição de softwares e conseqüentemente a otimização dos recursos, a imersão num modo de produção colaborativo. O software livre é a porta de entrada para um novo mundo. Um exemplo de como a sociedade se arranja num ambiente onde o conhecimento é livre.

Partindo da idéia do conhecimento livre, pensamos, então, na terceira fase dos projetos de inclusão digital: a circulação da informação dentro da comunidade conectada.

Preto Bomba, músico de hip-hop, diz:

“Acho que levar a educação à comunidade é cativar o consumidor de música, teatro, filme, novela. A vontade de se comunicar, de participar. Cansei de ver uma certa cena atuar e bater palma pra si mesma, ignorando o povo e seus desejos, ignorando a maioria e suas necessidades.”

Não podemos ignorar o conhecimento da multidão. Preto Bomba representa um movimento cultural. Nascido na periferia, alçou vôo em todas as direções. Existem muitos “Pretos Bombas” esperando a sua vez para explodir a criatividade. O conhecimento é parte integrante do ser humano. Um traço cultural arraigado no sujeito e na sua comunidade. É necessário, no entanto, que esse conhecimento seja tropicalizado. A junção deste conhecimento com as informações de fora da comunidade ativa o movimento cultural. Esta circulação tende a ser potencializada pela conversação entre as pessoas inter e intra comunidades. Criando, assim, possibilidades infinitas de colaboração. Mas para isso acontecer demanda um engajamento das pessoas aos projetos. Esse engajamento não pode ser imposto. É um movimento que só acontece quando a comunidade sente necessidade no seu desenvolvimento. Um movimento de baixo para cima, de dentro para fora das comunidades. Este processo espelha sobremaneira os anseios e necessidades das comunidades.

E quando esta equação se torna balanceada, as comunidades têm a oportunidade de catalisar o próprio conhecimento que existe na comunidade.