Projeto MetáFora

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O Projeto MetáFora começou como um grupo, numa conversa descompromissada com o Felipe Fonseca, que pretendia a criação de um canal de pesquisa sobre comunicação, internet, filosofia e cibercultura. Então surgiu a idéia e o nome MetáFora — uma simples lista de discussão e muita vontade de compartilhar o conhecimento. Um projeto aberto. Baseado nos conceitos do software livre e dos códigos abertos.

O software livre aparece como um arcabouço filosófico. Um bom senso comum para a maioria que costuma freqüentar este ambiente cibernético. Através da internet esta filosofia foi potencializada, pois de forma colaborativa milhares de pessoas se uniram para a criação do Linux. A grande sacada do Linus Torvalds não foi o Linux propriamente dito, mas a disponibilização de um projeto para ser discutido, implementado, melhorado, deletado, editado ou apenas dialogado. A comunidade de desenvolvedores construiu um sistema operacional viável. E subversivo. Pois rompe com o modelo de produção de software. Atualmente, para a vanguarda tecnológica, o software não é mais visto como um bem, e sim como uma ferramenta para atingir o conhecimento.

A abundância do conhecimento, disponível livremente na rede, poderia, então, ser incrementada pelo efeito colaborativo. Assim como as comunidades de programadores romperam as amarras com o velho sistema ao apresentar à humanidade um novo modo de produção, pensamos que a avalanche tecnológica poderia fazer o mesmo nas áreas restritas às trocas de informação e construção do conhecimento.

O caráter aberto do projeto deu ao grupo as possibilidades para exercício total da criatividade. A idéia original estava em pontuar a ruptura dos modelos de aprendizado através de um debate transparente, a colaboração entre os participantes, a descentralização da informação e muita paixão. Através de uma comunicação multi-facetada, multi-lateral, interativa e independente criamos um fluxo líquido de idéias que alimentam um repositório de conhecimento.

Esta forma de expressão é a metáfora que procurávamos. Combina com os anseios da rede. Provoca e isola os conceitos da cultura de massa, que pressupõe o comando e controle das pessoas. No MetáFora, estamos abrindo passagem para a virtualidade.

Aprendizado transversal

Mas nem tudo saiu como planejado. O sonho de interatividade foi potencializado pela velocidade frenética da conversação. O MetáFora não se comportava como um simples debate. Apesar de participar de mais de 30 listas, jamais tinha presenciado um tráfego tão intenso de mensagens. Nada de bobagem. Simplesmente estávamos experimentando a catalisação das inteligências.

Percebemos, então, que o MetáFora tinha mais a ver com uma forma de troca de conhecimento do que com uma discussão insípida. Percebemos que as pessoas conversavam com outras pessoas, imbuídas do mesmo tesão pela interatividade. Este diálogo caótico e para os lados nos possibilitou experimentar a transversalidade do aprendizado. Percebemos que na rede as pessoas aprendem, de fato, através da utilização das ferramentas colaborativas pelas próprias pessoas.

Paulo Bicarato diz: “Aprender e apreender. Aprender a apreender. Não existe fórmula pronta. É deixar-se entrar no fluxo, intuitivamente, e sentir-se integrante/participante dessa mágica maior que não tem nome. Aí a consciência emerge: NÓS somos conhecimento...”

Chocadeira Colaborativa

Um projeto de caráter Open Source ou de códigos abertos. Conceitualmente está baseado no conhecimento livre, que significa liberdade para modificar, editar, adicionar ou subtrair. Visando sempre aprimorar o conteúdo final. Um movimento iniciado pelos programadores, e que pode ser replicado em outras áreas do conhecimento. Pois a somatória de inteligências incrementa o poder criativo. As conversações propiciadas pelas listas de debates, fóruns e e-mails promovem a cultura do compartilhamento e beneficia a mentalidade do conhecimento aberto e livre.

Temos como objetivo entender e desenvolver conhecimentos adequados a uma nova relação com a cultura interconectada. A partir de comunidades locais, para fomentar a inclusão digital e o uso efetivo de ferramentas de publicação pessoal e construção coletiva de conhecimento. Formada por uma lista de debates, um fórum e um monte de pessoas comuns debatendo sobre como utilizar a tecnologia para incrementar a conversação na rede.

O primeiro fruto foi o blogchalking — www.blogchalking.tk. Um projeto pessoal do Daniel Pádua, que utiliza “metatags” com informações geográficas e demográficas dos blogs. Um esforço comunitário para programar coletivamente os sites de busca e possibilitar pesquisas por blogs por região, por idade, sexo ou pela quantidade de horas que ficamos olhando para o monitor colorido. Embora a idéia, a implementação e todos os méritos sejam do Daniel Pádua, o blogchalking nasceu dos debates na MetáFora. O blogchalking pisou no acelerador e alcançou a comunidade interneteira no Brasil e no exterior. É noticia de jornais, revistas e blogs pelo mundo afora.

Tem muito mais sendo feito. Todos os projetos estão referenciados, listados e devidamente explicados no site www.projetometafora.org. Existe liberdade para participar dos projetos, pois acreditamos que as pessoas só se engajam nas coisas que sejam do seu interesse pessoal. O MetaForaProjetos está subdivido em três: Projetos individuais apoiados pelo grupo, Projetos Coletivos e Abertos e Projetos apoiados pelo Grupo. Entre outros, estamos desenvolvendo uma MetaLicença — para atender a produção de conteúdo; MetaForaComunidades — ou seja, estabelecer comunidades online interconectadas para fomentar a inclusão digital e o uso efetivo de ferramentas de publicação pessoal e construção coletiva de conhecimento; e a MetaReciclagem — que visa a reciclagem de microcomputadores e a instalação de softwares livres, bem como reforça a inclusão digital pela imersão ao hardware e ao software.

Mas tudo isso é o pano de fundo desta revolução. Percebemos que havia um pessoal interessante falando coisas semelhantes, mas um de cada lado. Nosso trabalho foi juntar o pessoal. E deixar fluir para ver o que aconteceria. Em poucas semanas milhares de mensagens foram trocadas. Informação repercutindo conhecimento. Comunicação direta, conversação e “open source” irradiando para a inteligência coletiva. A realização dos projetos para qualquer um que realmente tenha boa vontade e espírito colaborativo. Essa MetáFora tende a ser um projeto maior. Entre pessoas, em qualquer lugar. Numa viagem não-linear no tempo e no espaço.

A periferia é o centro

Esta viagem nos levou a reencontrar a metáfora perdida. Foi durante os preparativos para o evento Mídia Tática Brasil, cuja partida deu-se nos debates metafóricos que incorporamos a idéia de que a “periferia é o centro”. Segundo Marcelo Estraviz: “A periferia é o centro. Porque lá ele está incluído. Porque lá Sebastião é o rei do samba. Porque o filho do Sebastião trabalha no centro comunitário e o sobrinho, junto com os amigos, estão quase conseguindo o computador para a escola municipal. É o centro porque lá a comunidade se organiza para tirar os traficantes e tentar livrar seus filhos da grana da droga. Uma grana que mata antes dos 20. Pobre sabe o nome do traficante, mora perto dele e reza para que o filho não caia no conto do tênis importado. Pobre sabe que o traficante, que empinava pipa com ele faz 15 anos lá no morro, está cheio da grana. Grana dos almofadinhas que cheiram pó e gritam com os subordinados.”

“A periferia é o centro. Porque no outro centro, aquele das avenidas e dos engravatados, pobre chega de cabeça baixa. Na comunidade ninguém anda de cabeça baixa. Só aquele que se perdeu na bebida depois de anos desempregado. Mas também para ele pobre tem comida e entrega num prato. Pobre se organiza, faz rifa e compra berço e mantimentos para a menina que foi estuprada mas não aborta porque é crente. Pobre se junta, faz mutirão para pintar a creche. Pobre só não sabe ainda que tem muitos direitos. Ainda não sabe e se depender da ‘cidadania’ não vai saber.”

“A periferia está se organizando. Está cansada, mas se organiza. Pobre quer que o filho estude, mesmo que ele seja burro, mesmo que a escola seja ruim. Pobre quer ler. E um dia vai ler em algum lugar seus direitos.


Sim, a periferia é o centro. O MetáFora buscou se incluir neste centro. Não queríamos ensinar nada. Não pensávamos em tutelar. Estávamos mostrando as possibilidades que as pessoas de baixa renda e que vivem na periferia têm para amplificar as suas vozes. Exercer a linkania. Eles têm telecentros, eles têm monitores, eles estão contemplados por políticas públicas progressistas que têm como objetivo a criação da estrutura física. Ou seja, a instalação de centros comunitários conectados. Assim, o MetáFora falava a língua da periferia, e a Prefeitura de São Paulo respondia a primeira variável da tríade da informação.

Tríade da informação

Os projetos desenvolvidos colaborativamente pelo Metáfora abrangem desde soluções para acesso à internet até alternativas para estimular o espírito empreendedor das comunidades atendidas. Tais iniciativas estão baseadas em uma organização conceitual denominada a Tríade da Informação:

* Infra-estrutura física: microcomputadores, dispositivos interconectados, hubs, gateways;

* Infra-estrutura lógica: padrões de interconexão, sistemas de publicação, gestão de conhecimento, redes de processamento distribuído, protocolos;

* Interação: colaboração, capital social, aprendizado, conhecimento compartilhado, consumer-to-consumer, mobilização, participação.

Esporos e os memes

“Os memes devem ser considerados estruturas vivas, não apenas metafórica mas tecnicamente. Quando você planta um meme fértil em minha mente, você literalmente parasita meu cérebro, transformando-o num veículo para a propagação do meme, exatamente como um vírus pode parasitar o mecanismo genético de uma célula hospedeira. E isso não é apenas uma maneira de falar — o meme, por exemplo, para "crença numa vida após a morte" é, de fato, realizado fisicamente, milhões de vezes, como uma estrutura nos sistemas nervosos dos homens, individualmente, por todo o mundo” (Richard Dawkins – “O gene egoísta”).

O MetáFora foi à periferia. Foi à Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, para aplicar um workshop para o pessoal das comunidades no entorno do telecentro. Preparamos um site portal, desenvolvido sob a interface Drupal no http://www.memelab.org/telecentros/. Um sistema bastante colaborativo, que permite a todo usuário cadastrado a possibilidade de publicar seu próprio blog. Além disso, permite outras formas de interação, tais como um livro colaborativo, sala de bate-papo, fóruns, publicação de artigos, mensagens pessoais. Tudo isso interligado por XML e RSSficado.

As pessoas foram, então, incentivadas, desde o início, a publicar nos seus blogs tudo que aprenderam durante o workshop, bem como suas experiências autodidatas. Conversamos sobre conceitos de bricolage, que na internet se popularizou como copiar e colar, sobre reputação, conhecimento livre, trocas de informação, voz humana e colaboração.

É fácil compreender que, após um certo tempo com workshops constantes, um banco de conhecimento livre é desenvolvido. Vocês concordam que o sujeito que fizer o curso de música digital, provavelmente aquele que se destacou no curso, vai querer voltar lá depois do curso para gravar o som da banda dele? Ou aquele que tem opinião vai querer continuar publicando na Internet, incrementando sua reputação? Por que não criar uma moeda de troca tangível, e pedir em retribuição como trabalho voluntário por determinado tempo? Por que não aproveitar os caras que despontam, ou que foram identificados com potencial?

Por que não? Existem muitas maneiras para replicar esse conhecimento. Estamos defendendo um modelo em que o ensino/aprendizado tem um envolvimento e um comprometimento, nada de uma hierarquia fixa. O aspecto de "pessoas que sabem mais" é inevitável, mas com a tecnologia a gente pode fazer isso virar um processo completamente dinâmico. Neguinho é aprendiz de três caras, escolhidos por reputação/karma. Depois de um tempo, ele já tem seus próprios aprendizes na sua especialidade. Uma construção inequívoca de conhecimento.

Mas os falsos projetos de "inclusão" estão direcionados ao mercado de trabalho. O foco é tão esquizofrênico — pois pressupõe que “nós, os donos do saber, seremos magnânimos e levaremos a cultura para a periferia”. Uma falácia, pois a cultura já está lá. Temos é que incentivar as conversas, amplificar suas as vozes e ficar atentos para aprender coisas que nem imaginamos. Devemos maximizar o engajamento das pessoas aos projetos que rolam nas suas comunidades.

A catalisação do conhecimento livre, somada aos agentes locais replicadores deste conhecimento nos mostram a esporificação do sistema. As pessoas, assim, são capazes de tomar as próprias rédeas, andar sozinhas e protagonizar suas próprias vidas.

Os esporos são os nós vivos da rede.

MetáFora é um conceito

O Dalton Martins me chamou a atenção. Ele disse: “da mesma forma que os caras que fazem o kernel do Linux ganham muito quando vão representá-lo e ninguém sai por aí chiando que está sendo roubado, não estamos roubando ninguém, por que a informação é livre, o xemelê é livre”.

No “Marketing Hacker – A revolução dos mercados” escrevi: “somos todos teoricamente open source, militantes de um processo grupal em que o produto é intangível. Estamos desenvolvendo nosso conhecimento e queremos utilizá-lo em forma de trabalho (...). Observe os homens do Linux. O software é tangível, mas o desenvolvimento deste processo de criação é totalmente novo. Não difere do nosso trabalho de construção de mercados e conhecimento. Somos os hackers desses novos mercados. E nossas comunidades estão peitando o tradicionalismo de cima para baixo. Estamos tentando criar soluções.”

MetáFora é um conceito de inteligência coletiva. O movimento do software livre aparece como a ponta do iceberg. Acredito que a verdadeira revolução está na base da pirâmide de gelo. A conversação da rede é muito mais do que apenas discussão e bate-papo. Alguns produtos, assim como o software livre, estão sendo criados nesses debates sem fim. Esses produtos são intangíveis e, muitas vezes, invisíveis pelos incautos. A colaboração incrementa de fato as inteligências latentes. A informação passou a ser livre.

O conceito MetáFora é totalmente independente. É aberto e flexível. Não é um projeto acadêmico. É uma nova forma de gerar conhecimento. O nosso enfoque é o incentivo de projetos pessoais através da colaboração entre os participantes.

E se você estiver num barco a vapor, vá de encontro a um Iceberg. Vá a todo vapor adiante e quebre o barco ao meio. Rompa com a continuidade de um futuro previsível para a tua vida. O MetáFora quer a transformação digital.