Oi apóia projeto de inclusão digital em Juazeiro do Norte

POR WELLINGTON RABELLO*
De Juazeiro do Norte

CIDADANIA SOBRE RODAS

Inauguração do Expresso Digital aconteceu no dia da comemoração dos 164 anos do Padre Cícero


A cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, viveu um dia de festa na última segunda-feira, 24. Localizado há 493 quilômetros de Fortaleza, o município teve dois acontecimentos importantes para os seus moradores: a comemoração dos 164 anos de nascimento do seu fundador, o Padre Cícero, e a inauguração do projeto Expresso Digital, da ONG Juriti, que tem o apoio da Oi, por meio do programam Novos Brasis do Oi Futuro, instituto de responsabilidade social da operadora.

O Expresso Digital é uma ação do Instituto de Ecocidadania Juriti, organização não-governamental nascida em 1998, que funciona em uma sucata de ônibus reformada e equipada com oito computadores interligados à rede mundial de computadores, a internet. O projeto foi inaugurado no bairro Colina do Horto, onde ficará por 15 dias, e depois seguirá para o Salesiano, no centro de Juazeiro do Norte.

De acordo com a coordenadora da ONG Juriti, a socióloga Cristina Diogo, o papel do Expresso é sensibilizar as pessoas sobre políticas públicas de inclusão digital, mostrando que o cidadão pode se apropriar da tecnologia também para cobrar seus direitos. “O povo tem fome de cultura, não só de comida. Por meio do Expresso Digital, vamos detectar os principais problemas do bairro onde ele estiver e, por videoconferência, apresentá-los às autoridades responsáveis por achar as soluções”, afirmou Cristina Diogo.

A compra e a reforma da sucata do ônibus foram custeadas pelo prêmio oferecido pelo Oi Futuro, no total de R$ 150 mil. Deste valor, 113 mil foi destinado somente para equipar o Expresso Digital, e o restante para manutenção e pagamento dos monitores e motorista.

O Expresso Digital vai percorrer 24 bairros de Juazeiro do Norte até o final do ano, funcionando de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h, com a proposta de atender oito pessoas por um tempo de trinta minutos. Para utilizar o Expresso, o usuário se inscreve no portal do projeto www.juriti.org/expresso, onde ele vai ter acesso às normas de uso e de conservação. “Primeiro serão oferecidas noções de informática básica e depois será liberado o acesso à internet. Do lado de fora do Expresso, vão ser realizadas oficinas de reciclagem, teleconferências e exibições de filmes”, informou Cristina Diogo.

O grande desafio – Após a aquisição da sucata, o próximo passo seria fazer a restauração dela e deixar pronta para abrigar o Expresso Digital. Para essa missão a ONG Juriti convidou o dono de uma oficina de recuperação de chassi de caminhão, do bairro Salesiano, José Balduino Feitosa, o Zé do Chassi, de 46 anos.

Zé do Chassi traduziu a missão que foi dada a ele como “um grande desafio”, pois teria que adaptar dois veículos e transformar em um só: carroceria e chassi de GM, de fabricação americana, e a mecânica da Mercedes-Benz, brasileira. Ele disse ter encontrado muita dificuldade, pelo fato de serem dois carros completamente diferentes e que ainda há serviços para serem feitos, mas afirmou estar bastante satisfeito pelo alcance social que o projeto terá.

A recuperação da sucata demorou quatro meses e meio, tendo começado em novembro de 2007. Segundo Zé do Chassi, o serviço foi intenso e ocorreu também aos sábados, domingos e feriados, como no Natal, que ele trabalhou o dia inteiro. Três funcionários da oficina dele ajudaram na confecção do Expresso Digital.

“Durante esses quatro meses, tentamos conciliar os serviços da oficina com a recuperação da sucata, mas muita coisa acabou atrasando, pois a prioridade era o Expresso”, afirmou Zé do Chassi, informando que o valor do seu trabalho ainda não foi fechado, mas que será simbólico por causa do cunho social do projeto e pelas crianças que serão tiradas da marginalidade.

O gerente de Relações Institucionais da Oi, Urbano Costa Lima, participou da inauguração do Expresso Digital e disse que o projeto reúne os dois vetores do Oi Futuro, que são a educação e a cultura para a promoção do desenvolvimento. Ele informou que todo ano é aberto edital para seleção de ONGs que trabalhem com educação, tecnologia e informação, para serem patrocinadas durante um ano e receberem, além do dinheiro, orientação na área de gestão.

A Oi apóia projetos nos 16 estados onde atua. Urbano Costa disse que faz muito tempo que o Maranhão não tem trabalhos patrocinados, porque não possui lei estadual de incentivo cultural, perdendo para o vizinho Piauí que tem, todos os anos, um ou dois projetos aprovados.

A ONG Juriti – O Instituto de Ecocidadania Juriti (ONG Juriti) foi criada em Juazeiro do Norte, no ano de 1998, com sede no bairro Leandro Bezerra. A idéia, segundo Cristina Diogo, surgiu a partir dos impactos ambientais provocados pelas romarias que chegam ao município, vindas de várias partes do país, em número de quatro por ano. “Era muito lixo acumulado, esgotos entupidos e o serviço de telefonia que ficava congestionado com o uso excessivo pelos romeiros”, informou.

O passo inicial para a criação da ONG foi o primeiro lugar alcançado por Cristina no prêmio Betinho de Cidadania, com sua monografia. Com o recurso ela abriu um pequeno escritório e deu início às atividades, tendo como carro chefe a orientação para a coleta seletiva de resíduos. Em seguida, foi criado o Circo Escola de Ecocidadania, que tinha como missão passar de bairro em bairro com suas apresentações, mostrando para as pessoas a importância da coleta seletiva.

Nesses 10 anos de existência, a Juriti já criou uma Associação de Catadores de Resíduos, formou 20 educadores sociais e já começa a levar suas ações para outras cidades do Ceará. O próximo passo é a organização do espetáculo Patativa do Assaré: cuidando do semi-árido, que servirá para trabalhar a preservação do meio ambiente, cultura e ainda resgatar a história de Patativa do Assaré, envolvendo 10 pessoas entre 14 e 22 anos.

Fotos:DIVULGAÇÃO
Expresso Digital vai percorrer 24 bairros de Juazeiro do Norte, levando inclusão
digital. No detalhe, a sua coordenadora, a socióloga Cristina Diogo

Zé do Chassi transformou a sucata
em um meio de inclusão

José Iran, membro do Circo Escola, vê no
Expresso Digital a realização de um sonho


Durante a inauguração do Expresso Digital, teve a apresentação de um grupo de jovens que integram o Circo Escola de Ecocidadania. Entre eles estava José Iran Brigido Pinheiro, de 18 anos, que vê no Expresso a realização de um sonho e que ele servirá para resgatar valores, para mostrar que a criança não está só. “Algumas crianças sentem dificuldade em se aproximar da Juriti e o Expresso Digital vai facilitar esse contato, porque vai a procura dessas pessoas”, reforçou José Iran.

Ele acredita que as oficinas, principalmente a de metareciclagem – técnica que visa transformar computadores velhos em uma nova máquina, para serem doados às comunidades, vai envolver ainda mais os moradores no projeto, porque quando se sabe de onde veio aquele beneficio mais se cuida dele.

José Iran entrou no Circo Escola quando tinha 14 anos e hoje já é um educador social da instituição. Antes ele trabalhava vendendo água de coco no sinal de trânsito, onde ficou durante três anos e não tinha tempo para freqüentar a escola. “A minha vida se transformou. Eu só pensava em ganhar dinheiro, agora penso em mudar outras vidas”, declarou.

*O jornalista foi para Juazeiro do Norte a convite da operadora Oi.