A (há) vida além dos Editais: estudo e conversa com Andréa Saraiva

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Andréa Saraiva, consultora em Economia da Cultura MinC/Pnud, acaba de publicar um estudo fomentado pela ação Economia Viva. A pesquisa possui como objetivo mapear, propor e implementar soluções simples para complementar a política de editais públicos, e deste modo instrumentalizar a sustentabilidade financeira de coletivos e instituições ligadas a ações culturais no país.

O documento pode ser baixado aqui: "Economia Viva e Solidária: Estudo Propositivo de Alternativas de sustentabilidade financeira dos Pontos e Pontões de Cultura"

Aproveitando o gancho da publicação, fiz algumas perguntas para Andréa, que se colocou a disposição para continuar o dialógo no coletivo :)

Na thread enviada (na lista da MetaReciclagem para divulgar o estudo) você colocou o assunto: "Existe vida cultural além de editais?". Essa pergunta reflete uma dificuldade quase que generalizada de dar continuidade às iniciativas livres, nascidas em comunidades e em locais sem apadrinhamento ou indicações diretas?

Andréa: Sim, o formato de editais, sem dúvida é o que mais se aproxima de uma prática democrática, republicana que está consolidada. No entanto, são observadas várias distorções. Desde a concentração de conhecimento por um tipo de saber que é a metodologia, até a injustiça entre quem está começando agora e os que já estão consolidados. Sem dúvida, a disputa é desigual. O que falo no texto é que não existe autonomia - um dos princípios do Programa Cultura Viva - se há dependência financeira dos empreendimentos com relação aos editais. São 97% dos pontos que afirmam que os editais são a maneira preponderante de captação de recursos.

O que levou ao desenvolvimento desta pesquisa?

Andréa: Prestei consultoria ao Minc/Pnud, cujo objetivo era implementação da Ação Economia Viva. Como começamos a Ação "do zero" optamos por uma gestão compartilhada. Criamos um GT (Grupo de Trabalho) que contribuiu muito para perceber os nós e transcendê-los. Além disso, sou eu mesma uma trabalhadora da cultura. Publiquei livros, sou do terceiro setor e sei bem da realidade enfrentada por organizações não governamentais. Foi necessário fundamentar a ação, perscrutar dados para apoiar nossas propostas com fatos concretos. Talvez esteja embutido no desenvolvimento da pesquisa o meu lado bem pragmático, que já está cansado de discussões intermináveis sem que haja avanço ou propostas. É uma maneira de dizer aos Pontos que não precisam ficar de pires nas mãos. Outra questão é que estamos organizando um encontro nacional de economia viva e esse texto pode ser a base para sairmos do encontro com propostas mais sedimentadas. De fato o estudo é um pontapé inicial. O que virá depende da rede.

Você acha palpável o arranjo entre coletivos e iniciativa privada, em busca da manutenção de iniciativas? Seria possível pensar em formatos onde projetos importantes não sejam engolidos pelo discurso das marcas?

Andréa: Não vejo problemas que se tenha a opção pela sustentabilidade financeira por via de empresas, do setor privado. Uma vez definidas as atribuições, não há motivos para não efetivar uma parceria. No entanto, meu estudo e a ação economia viva optam por formas solidárias e anti-capitalistas. É nessa seara que nossa proposta se pauta. E o governo tem a obrigação de investir nisso. Afinal, os maiores fazedores de cultura desse país estão no terceiro setor. Os pontos muitas vezes são os únicos equipamentos culturais em certas localidades. Estes assumem função semi-pública. É justo então que haja um repasse continuado sem a sazonalidade de editais.

Muita gente apoia o que chamamos de "Economia Solidária" e até acabam promovendo eventos e ações sob o tema de cultura livre, digital, que seja(...). Mas há quem realmente pratique uma organização horizontal, tanto na gestão como na distribuição de recursos?

Andréa: Sim, há, e muitos. Ainda que saibamos que existem organizações que deturpam, que são verdadeiras empresas com metodologias que mais afirmam o capitalismo. Há os que não fazem bom uso da verba pública. No entanto, o número de organizações sérias ultrapassa em muito os que desvirtuam. Nossa ideia é que sejam disseminados conselhos gestores, que sejam criados mecanismos de avaliação, que seja instituída a formação continuada, porque muitas vezes o que ocorre é falta de formação. Se basearmos a gestão dos pontos em práticas horizontais, certamente uma grande revolução se terá nesse país.