Raquel Rennó e Daniel Quarantana falam do novo curso de Tecnologia das Artes na UFJF

warning: require_once(sites/mutgamb.org/modules/print/lib/dompdf/dompdf_config.inc.php) [function.require-once]: failed to open stream: No such file or directory in /var/www/multisite_drupal6/sites/mutgamb.org/modules/print/print_pdf/print_pdf.pages.inc on line 194.

Raquel Rennó recentemente compartilhou o link do novo curso da Universidade Federal de Juíz de Fora (UFJF), o Lato Sensu em Tecnologia das Artes, que está com inscrições abertas até o dia 12 de maio.  Ela e Daniel Quaranta, coordenador do curso, concederam uma entrevista para o MutGamb contando um pouco mais da dinâmica e dos objetivos do curso:

Como surgiu a ideia de criar o curso?
Daniel: O curso surgiu pela necessidade de um grupo de professores do IAD do departamento de música e de artes, que tem uma perspectiva que poderia ser considerada como tangencial, atravessada pelo uso de novas tecnologias nos campos diversos das artes como um todo. No caso de quem foi a ideia, creio que surgiu em diferentes conversas entre alguns dos professores e foi catalizado por mim, com uma participação especial da Raquel Renná na troca permanente de idéias, projetos e projeções futuras.
Raquel: Fui convidada pelo prof. Daniel Quaranta, que também é coordenador do curso, a participar desta especialização. Já me interessava muito pelo que o pessoal da área de música e tecnologia
fazia e tínhamos ideia de pensar em projetos conjuntos. Além de projetos de pesquisa entre professores, era importante para a gente criar um grupo de alunos de várias áreas com os quais pudéssemos desenvolver projetos conjuntos a médio e longo prazo. Os trabalhos em arte e tecnologia muitas vezes pedem uma formação transdisciplinar onde prática e teoria das novas tecnologias e ciências devem ser estudadas em conjunto com a arte de modo critico e superando dicotomias do engenheiro/programador versus “o artista”, que infelizmente ainda vemos muito por aí. Por isso temos professores de experiência prática e teórica interessados em trabalhar de modo transversal para colocar em cheque este contexto “fla-flu”, onde todos perdem.

Hoje quem são os docentes envolvidos, e como chegaram a esse corpo?
Raquel: Para citar alguns membros do grupo temos professores como o Cícero Inácio, que vem trabalhando com mídias locativas com pesquisadores da UCSD em projetos como o Walking Tools, e dirige o Software Studies Brasil (grupo de pesquisa iniciado pelo Lev Manovich), além de colaborar com coletivos como o Casa de Culutra Digital em São Paulo e no projeto pioneiro Estereoensaios que envolve estudos audiovisuais em tecnologia 4K e 3D. Eu apresentarei uma visão geral das práticas artísticas em arte digital desde os anos 70, (do sécúlo XX) até agora e em outro módulo alguns conceitos e práticas em artes e biotecnologia, que se conectam em parte com a pesquisa que
desenvolve meu colega João Queiroz, especialista em Sistemas Inteligentes e Vida Artificial, editor do International Journal of Signs and Semiotic Systems e co-autor do livro Genes, Information and Semiosis. Além disso na área de musica temos o Quaranta, que é editor da Revista Eletrônica de Musicologia e da revista do Encontro Internacional de Música e Arte Sonora e teve suas obras editadas na Periferia Sheet Music de Barcelona – Espanha, o Castelões, que foi bolsista de instituições como

Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique (IRCAM), centro que já acolheu artistas do naipe do John Cage e desenvolveu parcerias para o desenvolvimento de softwares como o Max/MSP e o prof. Fenerich que expôs em lugares como o ZKM Kubus e o Forum Neue Musik (Alemanha). Na área do audiovisual temos o Suppia que é roteirista, editor e diretor de vídeos de ficção, documentários e vídeos
institucionais, e tem atuado em projetos de pesquisa envolvendo realização em cinema e vídeo de alta tecnologia, como 2014K e EstereoEnsaios e também é membro da SOCINE (Sociedade Brasileira para os Estudos de Cinema e do Audiovisual) e da SFRA (Science Fiction Research Association). Também temos professores com grande experiência no contexto da arte contemporânea, como o Ricardo Cristofaro, que já expôs na Pixxelpoint 2000 - Internacional Computer Art Festival na Slovênia, TRANSITIO_MX, Festival Internacional de Vídeo y Artes Eletrônicas no México, "Tranches de vie", em Paris, 3º Festival Internacional de Arte Electrónico 404, na Argentina e no FILE de São Paulo. A experiência prática diversificada do corpo docente permite ao aluno entender as práticas tradicionais de pesquisa, produção e difusão de projetos artísticos em novas tecnologias.

 

O curso é pago?
Raquel: Sim, como a maioria das especializações lato sensu, o curso é pago. A matrícula é de 50,00 reais e a mensalidade de 300,00 reais.

Quem pretendem atrair como alunos?
Raquel: O ideal seria atrair alunos de áreas muitos distintas que de alguma forma estejam interessados em desenvolver ou compreender sua experiência dentro das possibilidades que as tecnologias oferecem nos campos das artes visuais, audiovisuais e musicais.
Daniel: O curso tem como objetivo abrir um horizonte de pesquisa nova, não só na Universidade de Juiz de Fora, mas, tentando abrigar os projetos dos alunos numa perspectiva ampla das artes e tecnologia. O público alvo desse curso são alunos vindos das artes, arquitetura, comunicação, cinema, música, composição, video-arte, publicidade, sem esquecer do público curioso que pretende se aproximar do universo delimitado pelos usos das tecnologias nas diferentes áreas
das artes.

O que acham dos outros cursos, de outras universidades, sob essa temática existentes no Brasil?
Daniel: Creio q o nosso curso (é do que eu realmente posso falar) é uma novidade em si, creio que o nosso curso traz de diferente é o trabalho potencialmente colaborativo entre áreas que a tradição atomicista das academias tentou separar. Creio que estamos em sintonia com os tempos que vivemos e o trabalho colaborativo, horizontal e tecnológico é um objetivo que está em nossos planos alcançar e acho que certamente conseguiremos.
Raquel: Eu estive um pouco afastada da vida acadêmica no Brasil porque saí do país em 2004 e só voltei oficialmente ao assumir na UFJF, no final de 2010. Na verdade sempre achei interessante pensar
na pesquisa de outros pesquisadores como possibilidades de relação com o que desenvolvo. Acredito na potência das iniciativas do pessoal de UFRB (Cachoeira, Bahia) como Jarbas Jacome, Fernando Rabelo, Danillo Barata que estão construindo algo único ali, que ao mesmo tempo é de interesse geral. Como comentei antes, acredito que o interessante de um curso de especialização em artes é trazer a
experiência prática e em pesquisa de cada pesquisador que está envolvido no curso. Evidentemente sempre se tem em vista um referente teórico que se desenvolve de modo global, mas o que o
ambiente das artes pode oferecer em termos de formação é sair daquela idéia de que se estuda para entrar “no mercado” e seguir tendências que na verdade não são nada mais que modismos ou
modos de se entrar em uma estrutura da qual pesquisadores como eu e os professores com quem trabalho na UFJF estamos tentando questionar. Acredito que um aluno que entenda ou se interesse pelas relações entre arte, ciência e tecnologia esteja bastante desconfiado ou decepcionado com esse “mercado” que se apresenta, seja o da arte ou outros. A estrutura das aulas têm de ser colaborativas, a experiência em aula tem de ser horizontal respeitando os conhecimentos dos alunos. Dessa forma podemos ter formação voltada a projetos, algo possível de se desenvolver a médio e longo prazo, fugindo da dinâmica da produção pontual e sob demanda. E sim, existem modos de subsistência e de trabalho contínuo nessa estrutura, não necessariamente seguindo o que se impõe por parte das empresas interessadas na “industria criativa”.

Fora do Brasil existe algum curso que estejam dialogando?
Raquel: Eu colaboro desde 2009 como consultora dos seminários e o curso de especialização em Arte e Cultura Digital da UOC (Universitat Oberta da Catalunya), com quem estamos em processo de oficialização de uma parceria com a UFJF. Tenho pesquisa  conjunta com o coordenador do curso, o prof. Dr. Pau Alsina, que já esteve como convidado do primeiro Festival Cultura Digital (quando ainda era Fórum da Cultura Digital na Cinemateca de São Paulo) e desenvolvemos juntamente com Pau Waelder os seminários e os cursos que são oferecidos na UOC. Ele é membro do meu grupo de pesquisa da UFJF/CNPQ sobre estudos em práticas artísticas, espacialidade e ciências da vida. Além disso colaboro individualmente em projetos com a Universidade de Aalto na Finlândia (dentro do Future Art Base) juntamente com minha colega Ulla Taipale do coletivo que participo em Barcelona e espero dentro em breve poder criar uma ponte para jovens artistas brasileiros que queiram desenvolver projetos em arte, natureza e ciências da vida. Como parte dessa dinâmica também os festivais têm um papel fundamental e atualmente tenho estado muito interessada pelo que é desenvolvido pelo Arte.mov no Brasil, mas também tenho projetos em andamento para um festival de arte e tecnologia nos países mediterrâneos.