Opening Up the Barraco 55: Entrevista com Ellen Sluis

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Ellen Sluis, é holandesa, tem 26 anos, é pós-graduada em Novas Mídias e trabalha com projetos socioculturais. Fundou a ONG holandesa map:m()b, em 2011, que desenvolve projetos de cartografias com a juventude imigrante de Amsterdam. No último mês de maio, Ellen voltou para o Brasil (para ficar, e) para realizar o projeto BARRACO #55 no Complexo do Alemão.

 

O BARRACO #55 será um centro no Complexo do Alemão/Rio de Janeiro, para intercâmbio cultural entre visitantes – brasileiros ou estranheiros – e artistas da favela, promovendo um turismo alternativo e sustentavel. Terá residências artisticas em que artistas de fora colaboram com artistas locais, atividades culturais como jam sessions, palco aberto, cinemoto, exposição no ar livre, etc. Também terá oficinas e produções artisticas colaborativas em que visitantes e moradores podem trocar conhecimento, experiências e cultura e criar algo juntos. Principal é o elemento de troca. Por exemplo: queremos pedir para cada visitante trazer, ou dar alguma coisa. Um DJ pode dar uma oficina para DJ's da favela, um professor de yoga pode dar aulas de yoga durante a sua visita, um eletricista pode concertar a luz na casa de alguém. Mas, também, moradores podem dar oficinas para turistas, ensinar algo pra eles e pra poder ganhar alguma coisa pelo trabalho e conhecimento deles. Acreditamos nessa troca, diferente do que muitas outras formas de turismo e projetos sociais acontecendo na favela que ou somente dão (como muitos projetos sociais querendo ensinar algo aos moradores) ou somente tomam (como tours turisticos que podem ser comparados com safaris, explorando a vida nas favelas como atração turistica, e sem o lucro retornar para eles). Além de ser uma casa grande onde visitantes podem ser hospedados, BARRACO #55 é um coletivo de intervenções artisticas fazendo varios tipos de ações como o CineMoto (um cinema móvel numa moto!), cartografias e música. E o lucro que o BARRACO #55 gera será investido em atividades socioculturais, criando um espaço vivo para a juventude do Complexo do Alemão. Como não temos o espaço físico no momento, por falta de tempo e de dinheiro, somos por enquanto um conceito, e nós chamaos o BARRACO #55 uma plataforma para intercâmbio cultural, que acontecerá em varios lugares.

 

Quem desenvolveu esse projeto?

Ellen: A equipe do BARRACO #55 por enquanto consiste de 4 pessoas (ela, Fei An, Eddugrau e Rodrigo Saavedra). Eddugrau é morador do Complexo do Alemão, músico e ativista social. Rodrigo vem da Colômbia e é músico também e trabalha com audiovisual. Fei An, outra holandesa, é a co-fundadora da map:m()b, e trabalhou junto comigo com mídias digitais com a juventude em Amsterdam. A interação com agentes culturais e moradores da comunidade é chave, então já fizemos uma parceria com o Grupo Pensar, uma ong que trabalha com audiovisual na area e com a associação de moradores daqui. Ao longo prazo, queremos trabalhar com as mulheres da favela, incluindo elas na equipe numa forma horizontal em que todo mundo tem uma voz igual, trabalha a mesma quantidade de horas (2 ou 3 dias) e ganha o mesmo salário. Importante é aprender através de fazer, promovendo um desenvolvimento pessoal para quem não teria muitas chances no mercado de trabalho por não ter uma formação.

Como surgiu a ideia?

Ellen: A ideia do BARRACO #55 surgiu no ano passado quando eu estava aqui no Complexo do Alemão para fazer a pesquisa do meu mestrado sobre a ocupação da favela pelo exército, focando na questão da territorialidade. Chamei minha tese Opening Up the Favela (abrindo a favela), porque depois da 'pacificação' a favela abriu para muitos atores entrar e fazer os seus projetos: o estado, o mercado, ongs, a mídia, etc. Agências de turismo também estão espertas para as possibilidades de turismo, ainda mais depois que o teleférico foi inaugurado, facilitando o accesso na favela e mostrando aquela parte maquiada. Durante minha estadia aqui conversava muito com o Eddu, que queria desenvolver uma forma de turismo sustentável, que beneficiaria a favela, economicamente mas também socialmente, diferente do que o tipo de turismo explorador que geralmente acontece e que está crecendo nas favelas com UPP's no Rio de Janeiro. São muitas vezas agências de turismo localizados fora da favela, ou tours que reforçam a ideia que a favela é perigosa proibindo turistas a fazer o seu próprio caminho, ou que só mostram os lugares ‘bonitos’ da favela: as obras novas, o teleférico, etc. O Eddu queria provomer um intercâmbio, uma troca, em que ambos os turistas e os moradores podem aprender algo do outro, obter conhecimento, enriquecer visões e trocar experiências. Vemos arte e cultura no sentido amplo da palavra, não queremos distinguir entre arte profissional ou arte amador, e comer um prato brasileiro na casa duma familia na favela também é cultura!

Possuem algum tipo de financiamento?

Ellen: Junto com a Fei An trabalhamos alguns meses na Holanda para divulgar os planos, procurar parcerias e conseguir financiamento. Conseguimos uma parte do financiamento com um festival beneficiente que organizamos em abril em Amsterdam. Outra parte ganhamos através dum patrocínio do Cinema Kriterion, que é um cinema alternativo em Amsterdam gerenciado por somente estudantes numa estrutura totalmente horizontal. Como baseamos a estrutura do BARRACO #55 na do Kriterion e temos laços fortes com eles (a Fei An trabalhou lá durante 2 anos) conseguimos o patrocínio que ao mesmo tempo simboliza uma parceria para trocar experiências e conhecimento e fazer intercâmbios físicas eventualmente. No momento estamos nos orientando aqui no Brasil, tentando agora conseguir patrocínios com o projeto CineMoto. Ao mesmo tempo, escolhemos a estrutura de um albergue e centro cultural para gerar um lucro através da hospedagem, um bar e festas ou festivais para poder sustentar as atividades culturais sem depender de patrocinadores (e seus interesses) e a necessidade de perder muito tempo em escrever projetos para editais. Mas, como não queremos ser muito comercial, creio que dependeremos de futuros patrocínios para realizar alguns atividades maiores, como intercâmbios físicos, por exemplo.

Quais são suas perspectivas para o futuro?

Ellen: Faz duas semanas que a nossa equipe está junto fisicamente! No momento estamos procurando o lugar físico para ficar, um espaço. Mas já estamos anticepando algumas atividades. No dia 2 de Junho vai ter a ‘Abertura do Conceito BARRACO #55’, que vai ser o início oficial das nossas atividades. Mas semana passada já fizemos nossa primeira intervenção com o CineMoto. Projetamos num lugar em cima do morro Alvorada, no Complexo do Alemão, algumas curtas sobre arte de rua, grafite e stencils em paredes de casas da favela e convidamos a galera para fazer seus próprios grafites e stencils nas paredes. Numa hora a criançada que estava na missa da igreja do lado começou se empurrar na cerquinha na frente da igreja para ver as projeções. Ainda estamos pensando na melhor forma de fazer o CineMoto mas essa primeira vez já foi muito bacana! Nos próximos meses vamos principalmente focar nessas atividades espontáneas, para depois começar receber os artistas e visitantes. O objetivo do BARRACO #55 é ser um projeto autosustentável, mantido numa estrutura horizontal. Visamos uma colaboração forte com os moradores da favela e incluí-los na equipe, para que eles continuam o projeto no futuro. E para nos podermos, de repente, ampliar essa ideia para outros lugares do Brasil ou do mundo. Vamos articular uma rede de troca de cultura, o que deveria ser o verdadeiro sentido de turismo!