Iuri trouxe um relato, na verdade a perspectiva sobre o uso de Software Livre, em Fortaleza, durante uma apresentação do Mapa da Cultura, em Fortaleza, no mês de julho:
Pois um desses caras da prefeitura de Fortaleza pegou o microfonepegou o microfone (tarde demais pra mim retrucar) e foi falar mal da prefeitura de São Paulo porque eles usam software proprietário na educação e ele acha que "isso é um retrocesso"!
Em todas as esferas do governo é OBRIGATÓRIO e não sugerido que se use software livre. Até aí tudo bem, o palácio do governo do estado do Ceará é do lado do mausoléu do Castelo Branco e o estado inteiro tem uma cultura autoritária que persiste até hoje. Mas será que é isso que o povo quer? Ou ainda, se o povo quer, será que está pronto? Será que é o momento? Em todas as esferas o povo não quer usar software livre. Os próprios funcionários dos governos, federal, estadual, municipal, têm Windows instalado em seus computadores, os mais entendidos de tecnologia, têm seus próprios MacBooks com sistema original. O pessoal do suporte interno do governo trabalha para instalar e manter estações de trabalho com Windows. O que é ÓBVIO, LÓGICO E SENSATO, afinal o trabalho não pode parar e o pessoal que trabalha tem que usar as ferramentas que já conhece ou que aprendeu nos cursos de informática que surgem no vácuo do estado. A ausência de preocupação das gestões anteriores com a questão do software livre fatalmente gerou um movimento massivo de cursos de informática, e um medo na população de que se não aprendessem aquilo ficariam sem emprego ou coisa parecida. Mas esse processo aconteceu em vários lugares do Brasil, eu pelo menos tive a oportunidade de perceber isto no RS, em SC, no PR, em SP, em MG e no CE. Alguém poderia pensar que então existe um processo de transição. Ou eu falhei catastroficamente para perceber este processo e realmente estou processando disparates ensandecidos ou então este processo não foi planejado por aqueles que enchem a boca para se orgulhar de 'implementar o software livre no Ceará', ou mesmo não está acontecendo de forma alguma. Os professores (agora o termo é 'monitor', 'colaborador', etc.), claramente mais preocupados com a situação dos alunos do que o nível institucional, admitem que utilizam software proprietário para algumas coisas (por exemplo, edição de áudio e vídeo, soa familiar?) para ensinar os alunos, com a pregorrativa LÓGICA E COMPLETAMENTE RACIONAL de que no mercado de trabalho de Fortaleza, HOJE, é isso que eles vão precisar. E quem disser que não, não fez o dever de casa! Existem também aqueles que já sofreram a laranja mecânica do software livre, sim, aqueles que compartilham papéis de parede do pinguim queimando as janelinhas. E estes se esforçam ao máximo, dentro de suas limitações para evangelizarem todos a qualquer custo. Existem alguns destes que já deixaram de ser alunos e agora são professores, e já estão mudando a realidade dos cursos de informática, por exemplo, forçando também os alunos a aprenderem a utilizar software livre. E as escolas particulares? Tive pouca experiência, mas as poucas que eu tive mostram que estas nem chegam a considerar o uso do software livre. Ordem e progresso, a utopia pra depois! Fortaleza é um lugar ótimo para visualizar a diferença entre a miséria extrema (a miséria de todos recursos, não só os financeiros) e a "alta sociedade". Não tem muito meio termo, tu entra e sai dos lugares, uma hora tu ta em um ar condicionado com gente engravatada que se considera importante e que faz questão de exaltar a soberba, e daqui a pouco tu desce do ônibus para a galera de bermuda e chinelo que faz o possível para quiçá um dia serem igual aos primeiros, porque a televisão mandou. Parece que a hipocrisia é inerente a todas as realidades sociais, não há gente humilde. Agora saindo das escolas e indo para o mundo do "mercado de trabalho". O leitor deve imaginar que quem manda são as corporações grandes. O leitor deve estar correto. Vamos tomar o exemplo da Oracle, que domina o mercado, consegue lavar a mente de 99,99% dos desenvolvedores de que Java é a única linguagem de programação, suborna (eu disse financia?) influenciadores como coordenadores de núcleo, administradores e gerentes em geral e o mais bizarro: PROFESSORES para levar a mensagem do evangelho do reino: "Usem Java!", até aulas de software livre usam Eclipse pra ensinar Java, e vocês achavam que C#, ASP.NET e Microsoft eram coisa do demônio! Já pensou professores ensinando alunos (que não sabem porra nenhuma e não têm a felicidade de ter influências que incentivam o pensamento próprio) de que a única saída é fazer as coisas de uma determinada forma? Pois eu sei que não é só em Fortaleza que acontece isso, mas lá também acontece e é improvável que em poucos anos a "liberdade do software" seja uma realidade para aqueles que estão aprendendo hoje nas escolas que "software livre é bom e software proprietário não é". Parafraseando um compositor/músico/artista famoso que morreu pouco depois que eu nasci: "Dois problemas se misturam: a verdade do Universo e a prestação que vai vencer" É óbvio que os problemas que se criam talvez tivessem que ser encarados uma hora ou outra, forçar uma mudança pode ser bom ou ruim, ou bom e ruim, o que é bom para um pode não ser bom para o outro, etc. Mas me parece que nada há de errado com ninguém em lugar nenhum. Aqueles que criticam a posição dos Estados Unidos, por exemplo, de interferir em outras culturas, normalmente são os primeiros a apontar "defeitos" na forma de agir ou de pensar dos outros. Por isso quero dizer que de forma alguma quero aqui falar mal do Ceará, ou de Fortaleza, ou de alguém que mora lá. Estou fazendo o máximo que eu consigo para relatar formas de enxergar e pensar situações, e o leitor dedicado sabe que é insípido e insano o conceito de imparcialidade. Onde há uma palavra há parcialidade. Contudo, posso afirmar que estou feliz e satisfeito com a situação dos meninos da Granja Portugal, bairro que hoje tem os mais altos índices de violência em Fortaleza. Estou feliz com as crianças que estão enxergando novos horizontes. Estou feliz com as crianças que estão roubando celulares, matando e sendo mortas. Estou feliz com a fome na África. Estou feliz com as mulheres violentadas no oriente médio. Estou feliz com a corrupção na política do Brasil. Estou feliz com a minha prima brincando com os brinquedos que ela ganhou de meus avós aqui perto de mim. Estou feliz com as pessoas que estão descendo de seus carros de luxo para jogar golfe antes de voltar para o seu trabalho e ganhar milhões de dólares antes de terminar o expediente. Para mim está tudo certo. Provavelmente tenho mais coisas a dizer destas experiências, mas a minha visão não pode beneficiar ninguém, só quem fica sentado esperando a informação chegar mastigada. A minha mensagem não é que alguém tem que acreditar nisto que eu estou falando, é que qualquer um pode ir lá em Fortaleza, viver a divina comédia humana e tirar suas próprias conclusões. Provavelmente em outros lugares do Brasil e do Mundo, ou do Universo é possível chegar às mesmas conclusões, mas no meu caso lá foi o melhor lugar e o melhor tempo possível. Agora aproveitando que estou falando do Ceará, vou parafrasear um compositor importante de lá e que ficou famoso no país inteiro e provavelmente no futuro próximo vai ficar muito famoso no mundo todo: "Mas não se preocupe meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. Isto é somente uma (...)
(...) a vida realmente é diferente, quer dizer, a vida é muito pior!"