Guima, tem 23 anos, mas está na MetaReciclagem desde o começo da rede. Pesquisador autônomo de tecnologias, desenvolve projetos e oficinas de arte utilizando princípios de computação física, biotecnologia, software e hardware-livre. Ele concedeu uma entrevista para o MutGamb para contar sobre seu novo projeto o HackLeste.
Atualmente está desenvolvendo um HackLab, no SESC Belenzinho, em São Paulo: "O convite aconteceu através de um longo processo com oficinas de curta duração envolvendo tecnologias livres, na pegada Metareciclagem. Cultivando a descentralização do conhecimento, as formas e ramos de abordagem das pequenas oficinas de Arduino, Linux etc, demonstraram ter corpo para um espaço mais amplo de estudo". Diferente da proposta de um HackerSpace, os Hacklabs são territórios nômades, afirma Guima: Nos encontramos duas vezes por semana (quarta e sexta) das 19 às 21hs. Começamos em março de 2012. Ficarei lá até Junho, mas a sala de internet-livre do SESC continuará oferecendo um espaço HackLab no próximo semestre também.
Qual a proposta mais interessante que desenvolveram?
Guima - Vejo que a coisa mais interessante que desenvolvemos até agora é o próprio processo de documentação, diferente de outros momentos, consegui tempo e com ajuda da @laurestk conseguimos organizar bem a produção, pra mim foi algo inédito e a galera da lista metarec também deve saber que sim... @efeefe sempre combrando: "Documenta!!". Então pelo menos o registro do processo, mesmo que pobre em detalhes, pra mim foi o melhor desenvolvido, mas vejam lá se encontram algo legal também: hackleste.org.
Qual é o público alvo, e como interagem com a tecnologia?
Guima - Não escolhemos um público alvo, tanto que o SESC é novo, e decidimos deixar a galera da região se apropriar do espaço. Vejo que estes espaços devem ser conduzidos assim, nada de ser espalhafatoso pra chamar atenção de uma galera de longe ou mais "cult", mas permitir que aqueles que estão na redondeza também possam aproveitar. No entanto, a articulação da população local ainda é um processo, os encontros estão longe de ficarem lotados.
Placa Severino
Você acha que ainda existe uma barreira muito grande, digo, no interesse das pessoas em desenvolver tecnologias?
Guima - A barreira para o desenvolver tecnologias é a mesma que existe para o se apropriar delas. As pessoas querem saber de consumir, comprar e comprar, a maioria das pessoas estão presas neste vício, alimentado e incentivado pela grande indústria, quanto menos soubermos, quanto menor a educação, mais seremos escravos do sistema, isto é o óbvio mas somos facilmente comprados. Não sou extremista, quero dizer que o consumo e o consumismo são diferentes, comprar o desnecessário é consumismo, e isso nos afasta do princípio de qualquer invenção, a necessidade. Imagine se as pessoas descobrissem que ao invés de comprar um aparelho novo por R$300,00 pudesse consertar e até mesmo aprimorar o seu antigo por R$50,00? A resposta para a questão parece óbvia, as pessoas querem melhorar a tecnologia, ou seja, melhorar o conjunto de técnicas, mas a desinformação e nosso atual processo de formação nos elitizam e ficamos preconceituosos com o informal, com a informação.
Como você enxerga MetaReciclagem nesses processos?
Guima: Eu vejo MetaReciclagem no processo! Com que frequência? O tempo todo! Eu enxergo o movimento MetaReciclagem como um grupo com liberdade de estudo, podemos brincar, criar, falar sério, abstrair e concretizar. Vejo o que conheci por MetaReciclagem em tudo que faço, pois a liberdade está em todo o processo, tanto nas ideias quanto no objeto. O HackLeste (hacklab na zona leste), vem acontecendo por está trilha, sempre infiltro muita coisa que aprendi por aqui nas oficinas, utilizamos sucatas, reaproveitamos componentes, criamos placas genéricas sob licenças de livre utilização, software-livre, processos artísticos, mas principalmente o estudo informal, a autonomia que cada participante desperta e a ecologia autodidata mas em rede.