Felipe Cabral esteve em Ubatuba, no Encontrão que aconteceu no final de maio. Comentou sobre a experiência e documentou (um monte) sobre tudo que aconteceu lá:
O mais sensacional foi/é a praia, a paisagem, a natureza. No Encontrão, a melhor coisa foi a troca, os olhares, as entregas. Na oficina na ETEC, o bonito foi a disponibilidade, o vigor de quem está começando, a curiosidade e a fome por novas realidades formativas e temáticas.
O que motivou você a dar a oficina em Ubatuba?
Felipe: O que mais me motivou foi o convite e a possibilidade de diálogo direto com jovens/adolescentes em período de formação técnica da área de tecnologia da informação. O Chico Simões, o Daniel Marostegan e o Felipe Fonseca me mandaram emails falando que existia uma possibilidade de realizar esta oficina na ETEC Ubatuba e perguntaram o que eu achava disso, se eu toparia bolar uma ação para a participação das pessoas dessa instituição no Encontro da MetaReciclagem, visando também a integração com o espaço do Ponto de Cultura da Associação Alavanca. Acho que nasceu daí, desse convite. E é claro, trabalhar com jovens que estão em fase de formação, abertos para reflexões mais críticas sobre o papel da tecnologia num mundo cada vez mais mercantilizado e descartável é algo que tem me atraido cada dia mais. Juventude e consumo tem formado uma equação muito dura nos últimos tempos e apresentar novos possíveis dentro de uma perspectiva MetaRecicleira foi sem dúvida uma mola propulsora para esse momento.
Quais eram suas expectativas iniciais?
Felipe: Inicialmente imaginei que teríamos um espaço mais institucionalizado mediando as relações tanto na ETEC quanto na Fundação Alavanca. Essa foi certamente uma expectativa inicial que logo se desfez. E eu diria nesse caso, aproveitando a deixa, que esse dado trouxe contamento e estranhamento, ao mesmo tempo. Contentamento por ver que uma instituição capilarizada e burocratizada como em parte é o Centro Paula Souza (ETEC), nesse contexto, se apresentou totalmente aberto e livre para experimentação de novas possibilidades temáticas de estudo. E certamente isso se deu pela articulação do professor Alvaro e pela inserção e valorização da rede MetaReciclagem no olhar deste professor, que ao se deparar com Felipe Fonseca falando sobre laboratórios de garagem, metareciclagem como pedagogia, no evento Virada Digital, não hesitou em abrir as portas e convidar para uma ação na ETEC Ubatuba. Estranhamento (talvez esse não seja um bom termo, se o uso aqui é por não ter outro a mão. Senti na verdade algo como entre ansiedade e dúvida.) vem da percepção, ou melhor, da imaginação de que talvez a Fundação Alavanca tenha um desafio institucional maior do que os atuais atores sociais envolvidos tem pernas para percorrer. Pense num espaço grande, incrustado na natureza, com um potencial enorme de formação e participação social. Pensou? Então: esse é o espaço que eles possuem, esse é o aparelho disponível, estas são as oportunidades dadas. Entretanto, ao que parece (pelo que Milena Franceschinelli apresenta), as dificuldades de encontrar recursos que financiem mais quadros humanos para a gestão do espaço tem sido um dos pontos a serem vencidos.
O que você achou do processo do Encontrão?
Felipe: Fiquei bastante feliz com o resultado. Da oficina e do Encontrão, de modo geral. Pensei que haveria dificuldades técnicas na ETEC e escassez de recursos (internet, equipamentos) na Fundação Alavanca, mas para minha surpresa a fluidez permeou bastante os momentos em que a galera esteve junto nessa ação. Poucas vezes na minha vida vi um encontro auto-gestionado, na proporção deste, funcionar tão bem e ser tão agregador, em nome de uma temática que não é nem um pouco trivial. Em geral é possível ver eventos patrocinados e/ou de interesse público que acabam agregando muita gente por contarem com um apelo forte ou por terem recursos financeiros convidativos no patrocínio de participantes. Mas os encontros da MetaReciclagem tem remado e funcionado numa maré totalmente oposta a essa. Todo o encontro foi patrocinado pelos participantes da rede MetaReciclagem! Isso é muito sintomático no que diz respeito a maneira horizontalizada de gestão com que a rede tem se afinizado.
Gostaria de desenvolver alguns projetos em Ubatuba?
Felipe: Seria muito interessante desenvolver projetos ligados a Cultura Digital, a reapropriação tecnológica, ao fomento de tecnologias sustentáveis, permeados por uma lógica de rede metarecicleira em Ubatuba! É uma cidade muito bonita, litorânea, com um potencial enorme de transformação social. Sim, eu ficaria muito feliz com isso e espero que a cidade possa agregar micro núcleos de discussão e trabalho em torno das temáticas digitais.