Dia 25 de Julho: Dia Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Meiry Coelho, do Instituto Negra do Ceará (Inegra) trouxe à lista uma comunicação de combate ao racismo e à desigualdade de gênero e raça, criado para o dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho:

 

O spot foi produzido como parte das atividades de fortalecimento político do Instituto Negra do Ceará - INEGRA, com financiamento da FASE. Das atividades, realizamos formação política em gênero/raça/etnia para mulheres negras cearenses, comunidades quilombolas e ONG's parceiras. A comunicação comunitária é um dos eixos destacados para o combate ao racismo e à desigualdade de gênero e racial, em contraposição à mídia brasileira que constrói referenciais de comportamentos e valores negativos sobre as singularidades das relações raciais no brasil. Para tanto, o Inegra produziu o spot e distribuiu nas rádios comunitárias, disponibilizando, também, nas redes sociais e portais de comunicação.

 

Como você avalia a importância do material produzido?

Meire: O racismo brasileiro é velado, disso sabemos. O nosso país não se assume racista e continua usando a máscara da miscigenação, da democracia racial e do racismo cordial. A mídia reforça estes padrões culturais e cristaliza a herança colonialista e discriminante, naturalizando estereótipos no imaginário da população e promovendo a violência racial e simbólica. Isso é melhor visualizado se considerarmos as estatísticas de encarceramento, do nível educacional, da desigualdade de renda, as taxas de mortalidade e morbidade e os casos de racismo institucional e ambiental no Brasil. As produções livres, como spots, vídeos, imagens, são estratégias comunicativas cada vez mais utilizadas pelos movimentos sociais e coletivos organizados, para a construção de pautas na agenda pública e sociedade civil. Ainda, por serem livres de padrões regulatórios, permitem que diferentes temáticas, sobretudo a racial e a étnica, sejam abordadas na construção de sentidos e agenciamentos subjetivos. Produzimos o programa “rádio livre”, em formato de spot, porque reconhecemos a comunicação como espaço de construção de significados, de configuração e legitimação de identidades, e de combate a toda e qualquer forma de opressão e desigualdade. 

 

O Inegra vai participar de alguma ação no Rio+20?

Meire: O Inegra integra a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras e o Fórum Cearense de Mulheres e esses dois coletivos comporão o Território Global das Mulheres na Cúpula dos Povos. As atividades das redes feministas na Cúpula acontecerão no espaço da Plenária IV, onde serão desenvolvidos debates e atividades autogestionadas preparatórias das plenárias de convergências e das assembleias dos povos. O Território Global da Mulheres será promovido e organizado por mais de 30 redes de mulheres feministas nacionais e internacionais, que realizarão um Ato Conjunto no dia 18 de Junho no Centro da cidade do Rio. A concentração será às 10:00h no MAM (Museu de Arte Moderna), uma das principais entradas da Cúpula dos Povos, saindo em direção ao Largo da Carioca para um ato com atividades culturais em diálogo com a população da cidade do Rio de Janeiro.

 

Você avalia que as grandes mídias, com novelas e programas diversos reforçam o esteriotipo da mulher (e da mulher negra) de forma pejorativa?

Meire: Sem dúvida nenhuma a mulher negra é a mais atingida pelos efeitos da mídia televisiva, porque sofrem cotidianamente com a estereotipização e a violação dos seus direitos. Quase sempre assumem papéis de domésticas, prostitutas ou submissas, que não exigem “esforço intelectual” e demonstram a incapacidade à ascensão econômica. Na publicidade, condições histórico-conceituais reforçam a imagem da mulher negra como ser exótico, expoente da relação entre corporeidade e sexualidade. Para exemplificar, relembro o comercial da cerveja devassa “negra” que trazia a ilustração de uma mulher negra vestida como dançarina de bordel, exposta em uma mesa ao lado da garrafa de cerveja e de um copo cheio. Acima o texto: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”. A exposição da mulher ao lado da cerveja, como se fossem produtos de um bar qualquer, denota a possibilidade de consumo dos dois objetos. Fato que é comprovado no texto menor do anúncio: “Devassa negra, estilo dark ale, de alta fermentação, cremosa e com aroma de malte torrado”. A imagem impõe uma realidade brasileira que reforça e reconstrói padrões culturais da sexualidade tropical e da mercantilização do corpo da mulher negra. A propaganda foi retirada, mas antes gerou conteúdo para muitas ações dos movimentos de mulheres negras junto ao Ministério Público. É importante destacar que a mídia passa como ficção, mas não pode ser encarado como tal, pois esta ficção influencia a vida das pessoas. E a negação, como a afirmação, da estética negra começa na infância. Embora tenhamos poucas produções audiovisuais abordando a temática do racismo na infância, posso dizer que o vídeo “Pode me chamar de Nadi”, do diretor cearense Déo Cardoso, é um importante material educativo para o debate sobre a forma como a mídia impacta a infância e impõe um ideal de beleza criado pela população branca.